
Estreado em 1954 no Festival de Cinema de Veneza, La Strada conta a história de Gelsomina (interpretada por Giulietta Masina), uma jovem inocente e sonhadora, vendida pela mãe a Zampano (interpretado por Anthony Quinn).
La Strada é o filme preferido do Papa Francisco. Estreado em 1954 no Festival de Cinema de Veneza, a obra realizada por Federico Fellini conta a história de Gelsomina, uma jovem inocente e sonhadora (interpretada por Giulietta Masina, mulher do realizador), vendida pela mãe a Zampano (interpretado por Anthony Quinn). Na história, intervém outra personagem relevante, o Doido (que Richard Basehart interpreta). A música é de Nino Rota.
O Papa identifica-se com A Estrada, sublinhando a referência que nele está implícita a São Francisco de Assis. “A noção fundamental da doutrina franciscana da pobreza radical do homem diante de Deus iluminará também a profunda espiritualidade do filme e das suas personagens”, escreve Pascal Couté, professor de Cinema e Estética na Universidade de Caen, em “La Strada de Federico Fellini : un film franciscain?”, num texto que estabelece precisamente a natureza franciscana de A Estrada. O autor começa, aliás, por recordar que “aos jornalistas que lhe perguntaram, durante uma conferência de imprensa em Paris, se o seu filme era cristão, Fellini respondeu: ‘É um filme franciscano’”.

Óscar de Melhor Filme Estrangeiro, La Strada suscitou uma polémica entre escolas críticas, recordou Àngel Quintana nos Cahiers du Cinéma (1). “Os círculos marxistas e, nomeadamente, o director da revista Cinema Nuovo, Guido Aristarco, criticaram os valores religiosos do filme e vêem nele uma traição ao neo-realismo. Do lado oposto, André Bazin considera que Fellini parte de uma concepção do realismo de carácter social e que parece querer desvendar progressivamente a ambiguidade do mundo”.
Federico Fellini era um homem religioso. “Quem é que nos guia na aventura criativa? Como é que pôde acontecer?”, perguntava o cineasta numa entrevista concedida a Giovanni Grazzini (2). A seguir, encarregava-se de responder: “Só a fé em qualquer coisa ou em alguém escondido dentro de nós, alguém que se conhece pouco, que se faz vivo de vez em quando, uma parte taciturna e fechada e sábia que se pôs a trabalhar em nosso lugar pode ter favorecido a misteriosa operação”. Para o cineasta, “esta parte incônscia” devia ser ajudada “dando-lhe confiança, não a contrariando, deixando-a actuar”. Federico Fellini acreditava que este sentimento de confiança se poderia definir como um sentimento religioso. “A presunção, a erudição, o egoísmo, a mania de que se sabe mais, a falsa cultura, muito frequentemente bloqueiam esta confiança, obrigam-na a retirar-se, a dissolver-se, e então quase sempre acontece que os resultados sejam menos satisfatórios”.
Notas:
(1) Federico Fellini, Collection Grands Cinéastes, 2007
(2) Fellini por Fellini. Publicações D. Quixote, 1985