Francisco, 2013-2023 (6)

10 anos de pontificado, 10 gostos do Papa: o escritor Jorge Luis Borges

| 9 Mar 2023

escritor jorge luis borges, foto dr

O escritor Jorge Luis Borges, que Francisco conheceu pessoalmente quando era professor de Literatura no Norte da Argentina. Foto: Direitos reservados.

 

Jorge Mario Bergoglio foi professor de Literatura no Norte da Argentina, em Santa Fé, no Colegio de la Inmaculada Concepción, quando tinha 28 anos. Deve ter sido um notável mestre, como o são, de resto, tantos professores que sabem adequadamente fazer despontar o gosto pela leitura. A tarefa é hoje, entre nós, difícil de cumprir, porque se impõe amestrar os alunos para se saírem bem nos exames. Talvez Jorge Mario Bergoglio não tivesse, portanto, uma vida fácil no nosso sistema de ensino. Pelo menos não disporia de liberdade para ajudar os alunos a trilharem os caminhos que mais os enriquecem.
Na entrevista que concedeu a Antonio Spadaro, director da revista Civiltà Cattolica, o Papa Francisco evocaria a sua experiência docente, que acabou por o fazer conhecer pessoalmente Jorge Luis Borges. O relato é também uma significativa lição de pedagogia.

Bergoglio dava, então, aulas aos alunos dos últimos dois anos do liceu, tendo-os encaminhado para a escrita criativa. “Foi uma coisa um pouco arriscada”, recordou. “Devia fazer de tal modo que os meus alunos estudassem El Cid. Mas os rapazes não gostavam. Pediam-me para ler García Lorca. Então decidi que deveriam estudar El Cid em casa e durante as lições eu trataria os autores de que os rapazes mais gostavam. Obviamente, os jovens queriam ler as obras literárias mais ‘picantes’, contemporâneas como La casada infiel ou clássicas como La Celestina de Fernando de Rojas. Mas, ao ler estas coisas que os atraíam naquele momento, ganhavam mais gosto em geral pela literatura, pela poesia e passavam a outros autores. Para mim, esta foi uma grande experiência. Cumpri o programa, mas de modo desestruturado, isto é, não ordenado segundo aquilo que estava previsto, mas segundo uma ordem que resultava natural na leitura dos autores. E esta modalidade tinha muito que ver comigo: não gostava de fazer uma programação rígida, mas eventualmente saber mais ou menos onde chegar. Então comecei também a fazê-los escrever. No final decidi dar a ler a Borges dois contos escritos pelos meus rapazes. Conhecia a sua secretária, que tinha sido a minha professora de piano. Borges gostou muitíssimo e então ele propôs escrever a introdução de uma colectânea”.

“Parece-me excelente a ideia de reunir e imprimir os 14 relatos que conhecerá a seguir o leitor. A sua publicação será um estímulo para os jovens que os escreveram e um prazer, não isento de surpresas e de emoção, para quem os leia. ”, escreveu Jorge Luis Borges nesse prólogo, datado de 7 de Outubro de 1965. Como se pode ler no fac-símile do texto, revelado pela jornalista Cristina Pérez, num trabalho de reconstrução do encontro de “duas das figuras mais transcendentes da história argentina”, o labor do professor Bergoglio era enfaticamente enaltecido pelo escritor que observou que a colectânea “transcende o seu originário propósito pedagógico e chega, intimamente, à literatura”.

O gosto do Papa pela obra de Jorge Luis Borges, que a Quetzal tem estado a reeditar, permaneceu. E O Outro, o Mesmo, de 1964, é um dos livros eleitos – no prólogo, o autor diz que dos muitos “livros de versos” que escreveu este é também o que prefere (1). Não sabemos quais os poemas que Francisco mais vezes releu, mas não é improvável que, entre eles, esteja esse “Outro poema dos dons”, que assim começa:

“Graças quero dar ao divino
Labirinto das causas, dos efeitos
Pela diversidade das criaturas
Que formam este singular universo,
Pela razão, que não deixará de sonhar
Com um plano do labirinto,
Pelo rosto de Helena e a perseverança de Ulisses,
Pelo amor que nos faz ver os outros
Tal como os vê a divindade,”

 

(1) Jorge Luis Borges – Obras Completas 1952.1972 (2.º volume). Teorema, 1998

 

Na cidade onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado

Belém "está de luto e triste"

Na cidade onde Jesus nasceu, o Natal foi cancelado novidade

Não festejar o Natal precisamente na cidade onde – segundo a tradição cristã – nasceu Jesus? O paradoxo é enorme, mas não tão grande como a tristeza e a dor que pairam nas ruas de Belém, na Cisjordânia, e que se revelam nos semblantes dos poucos que as percorrem. “Belém, como qualquer outra cidade palestiniana, está de luto e triste… Não podemos comemorar enquanto estivermos nesta situação”, afirma Hanna Hanania, presidente da câmara cessante.

Deslocados de Cabo Delgado tentam regressar a casa, mas insegurança persiste

ONU denuncia

Deslocados de Cabo Delgado tentam regressar a casa, mas insegurança persiste novidade

Durante 13 dias, a relatora especial da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os direitos humanos dos deslocados internos, Paula Gaviria Betancur, esteve em Moçambique. De visita à província de Cabo Delgado, observou a enorme vontade das populações deslocadas de voltar para as suas casas, mas verificou também que “persiste a insegurança” e que as comunidades não têm como autossustentar-se.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Para o biénio 2023-2025

Centro de Reflexão Cristã elege direção “comprometida com orientações do Papa Francisco”

O Centro de Reflexão Cristã (CRC) acaba de eleger uma nova direção para o biénio 2023-2025, que se assume comprometida “com os princípios do Concílio Vaticano II e com as orientações do Papa Francisco”. Presidida por Inês Espada Viera (até agora vice-presidente), a direção que agora inicia funções promete “novas iniciativas”, que já estão a ser preparadas.

Em seminário nacional

Ação Católica Rural debateu desafios para o futuro

Perto de cem elementos da Ação Católica Rural, oriundos de 11 dioceses, estiveram reunidos durante o passado fim de semana, em Albergaria-a-Velha, para refletir sobre a missão do movimento nos dias de hoje, a ideologia de género e os desafios colocados pelo Papa, na sequência da Jornada Mundial da Juventude.

Portugueses em risco de pobreza aumentaram para 17%

Dados do INE

Portugueses em risco de pobreza aumentaram para 17% novidade

O número de pessoas em risco de pobreza em Portugal aumentou para 17% em 2022, tendo crescido em todos os grupos etários, mas afetando “mais significativamente” as mulheres e os menores de 18 anos. Os dados constam do mais recente Inquérito às Condições de Vida e Rendimentos (ICOR), relativo aos rendimentos de 2022, divulgado esta segunda-feira, 27, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

A Bíblia Tinha Mesmo Razão?

Novo livro

A Bíblia Tinha Mesmo Razão?

Abraão e Moisés existiram mesmo ou são apenas personagens de ficção? O Êxodo do Egito aconteceu nos moldes em que é contado na Bíblia? E a conquista da “Terra Prometida” é um facto ou mito? É inevitável que um leitor contemporâneo se pergunte pela historicidade do que lhe é relatado na Bíblia. Um excerto do novo livro de Francisco Martins.

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This