Da literatura, à música, passando pelas artes plásticas e pelo cinema, quais são as preferências do Papa Francisco? No 10.º aniversário do pontificado de Francisco, o 7MARGENS dá conta de 10 escolhas culturais de Jorge Mario Bergoglio.

Francisco já se referiu ao romance Os Noivos, de Alessandro Manzoni, em diversas audiências, tendo recomendado aos jovens que o leiam.
Um romance da predilecção do Papa Francisco é Os Noivos (I Promessi Sposi, no original), a obra-prima de Alessandro Manzoni, tido como “o primeiro grande romance italiano”.
Numa audiência de há meses, no dia 26 de Outubro de 2022, dedicada ao tema da desolação, considerada a primeira modalidade afectiva de discernimento, Francisco lembrou o livro pela “esplêndida descrição do remorso como uma oportunidade para mudar de vida”.
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Antes, durante a audiência geral de 27 de Maio de 2015, o Papa tinha recomendado aos jovens a leitura da obra. É provável que os que a tinham de estudar não a quisessem ler, havia constatado Umberto Eco em 2010, sugerindo que a leitura se fizesse quando já se fosse crescido. “Vale a pena”, acrescentou.
Os Noivos relata uma história de amor passada no século XVII, envolvendo os jovens Renzo e Lucia que, para se poderem casar, têm de se confrontar com a maldade de um conde. Mas a obra é também, como assinalou John L. Allen Jr., editor do Crux, “uma reflexão sobre a condição humana, incluindo o pecado e o perdão, o sacrifício e o egocentrismo e o que a integridade moral implica em tempos confusos”. O tema manifesta-se claramente “no contraste entre dois padres proeminentes no livro: Dom Abbondio, modelo de um clérigo carreirista interessado apenas numa vida fácil, evitando dissabores, e Frei Cristoforo, um capuchinho que se gasta no serviço aos pobres e marginalizados e que, com bravura, diz a verdade ao poder”.
“Em tempos de pandemia não se deve ser como ‘dom Abbondio’”, afirmou o Papa no Angelus de domingo, 15 de Março de 2020.
Pouco depois de ter sido publicado em 1827, Os Noivos teve leitores ilustres como Mary Shelley, Walter Scott, Charles Dickens e George Eliot, que leram a obra na língua original, uma vez que, na altura, estava na moda conhecer o italiano. A lista de leitores insignes foi, evidentemente, aumentando.
No prefácio da edição portuguesa, que as Paulinas publicaram em 2015, com tradução de José Colaço Barreiros, José María Poirier acrescenta-lhe Antonio Gramsci (referindo que o filósofo “coloca a questão de o romance constituir uma obra de arte religiosa que critica um cristianismo que, do seu ponto de vista, oscila entre um aristocracismo jansenista e um paternalismo populista e jesuítico”), o cardeal Carlo Maria Martini e os Papas João XXIII e Paulo VI. O prefaciador documenta o fascínio de Jorge Mario Bergoglio pela obra de Alessandro Manzoni e termina mencionando que o Papa, num encontro com cristãos dos Estados Unidos da América, tinha lembrado uma afirmação de uma personagem de Os Noivos: “Nunca dei por que o Senhor tenha começado a fazer um milagre sem o acabar bem”.