
Vocação de S. Mateus, de Caravaggio. Imagem reproduzida a partir de www.Caravaggio.org
Ver é fundamental na fé, afirmou o Papa Francisco num programa de Andrea Tornielli e Lucio Brunelli produzido pelo Dicastério para a Comunicação com a Rai Cultura, em colaboração com a Biblioteca Apostólica do Vaticano e os Museus Vaticanos. Ver e maravilhar-se. E uma boa ajuda para penetrar nas cenas do Evangelho é oferecida pela arte. Pela de Caravaggio (1571-1610), por exemplo, autor de Vocação de S. Mateus, uma das pinturas que Francisco mais admira.
Quando, sendo cardeal, se deslocava a Roma, Jorge Mario Bergoglio ia contemplá-la à Igreja de S. Luís dos Franceses. Foi, aliás, o quadro de 1600 que lhe inspirou o lema do pontificado: “Miserando atque elegendo”. As palavras são de uma homilia de S. Beda “O Venerável”, que, falando sobre a vocação de S. Mateus, disse que Jesus o olhou com misericórdia, escolhendo-o.
Quando lhe perguntaram se aceitava a eleição para pontífice, Jorge Mario Bergoglio referiu essa misericórdia: “Sou pecador, mas confiado na misericórdia e paciência infinita de Nosso Senhor Jesus Cristo, confundido e em espírito de penitência, aceito.”
Poucos meses depois de ter sido escolhido como Papa, Francisco assegurou: “Aquele dedo de Jesus assim… dirigido a Mateus. Assim sou eu. Assim me sinto. Como Mateus. É o gesto de Mateus que me toca: agarra-se ao seu dinheiro, como que a dizer: ‘Não, não eu! Não, este dinheiro é meu!’. Este sou eu: um pecador para o qual o Senhor voltou o seu olhar”.
Constatou o Papa, noutra ocasião, que nenhum dos que estavam na cena pintada por Caravaggio, “nem sequer Mateus, ávido de dinheiro, conseguia crer na mensagem do dedo que o indicava, na mensagem daqueles olhos que o fitavam com misericórdia e o escolhiam para o seguimento”. Mas “sentia o enlevo do encontro. É assim o encontro com Cristo que vem e nos convida”.
A realização de Caravaggio, a Alma e o sangue, um filme sobre Michelangelo Merisi, o pintor que ficou imortalizado com o nome de Caravaggio, implicou a execução de uma cópia da Vocação de S. Mateus. Realizada segundo a técnica que se julga ter sido a de Caravaggio, a obra feita pela oficina Tifernate de Città di Castello foi oferecida ao Papa, que a tem exposta na Casa Santa Marta. O fundador da empresa disse no momento da doação que a obra-prima de Caravaggio, “que expõe com força e dramaticidade o tema da misericórdia e do chamamento universal de Cristo”, “é muito afim à mensagem que o papa Francisco propõe à Igreja e ao mundo”.