
Edifícios a arder em Manipur, na sequência dos confrontos. Foto divulgada esta terça-feira, 20 de junho, através da conta de Twitter @ashoswai.
Os confrontos étnicos no estado indiano de Manipur, que começaram já no início de maio, prosseguem, tendo provocado até ao momento pelo menos 100 mortes, o deslocamento de 50 mil pessoas e a destruição de 249 igrejas cristãs. O balanço é feito pelo bispo católico Dominic Lumon, de Imphal, diocese que cobre todo o estado onde têm estado a decorrer os tumultos, num documento datado de 15 de junho e agora divulgado online.
Ao longo de 11 páginas, o bispo Lumon explica que os confrontos opõem o povo predominantemente hindu Meitei ao povo predominantemente cristão Kuki, e que os mesmos incluem ataques com motivação religiosa.
Logo no início de maio, quando a onda de violência começou [ver 7MARGENS], “cerca de 249 igrejas pertencentes aos cristãos foram destruídas. Todas essas destruições ocorreram com precisão 36 horas após o início da violência”, relata o líder católico.
Embora os Kukis pertençam principalmente a denominações protestantes, como a Igreja Batista, algumas instituições católicas foram também visadas , incluindo a Paróquia de São Paulo, em Sangaiprou, que foi gravemente queimada, e a Paróquia do Santíssimo Redentor, em Canchipur, que foi saqueada e incendiada.
Em declarações ao jornal The Pillar, alguns padres indianos ligados ao estado de Manipur disseram ser difícil avaliar a situação vivida atualmente, devido ao bloqueio da Internet e à instituição do recolher obrigatório na região.
O bispo Lumon critica a resposta das autoridades indianas aos confrontos, acusando o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, de “silêncio”, o ministro do Interior, Amit Shah, de “falta de noção” e o governo local de “indecisão”.
“Depois de 44 dias desde o início dos distúrbios, a violência e os incêndios criminosos continuam inabaláveis, especialmente nas periferias da região do vale”, sublinha Lumon. “Vidas preciosas foram perdidas, casas/aldeias queimadas ou destruídas, pertences vandalizados e saqueados, locais de culto profanados e incendiados. Mais de 50 mil pessoas foram deslocadas e desalojadas e estão a definhar em diferentes campos de socorro e casas de outras pessoas”.
Lumon afirma ainda que, no meio da violência, surgiram milícias que afirmam defender o Sanamahismo, religião tradicional do povo Meitei. “Os relatos são de que os cristãos Meitei são advertidos com consequências terríveis se não regressarem à sua religião original. A alguns pastores foi-lhes dito que não reconstruam as igrejas. Há um silenciamento sistemático das minorias”, refere.
O bispo alerta que “a crise atual que o povo e a Igreja em Manipur enfrentam não é isolada. Parece haver padrões semelhantes em todo o país. [Esses] padrões e o modus operandi devem ser vistos na perspetiva mais ampla da preocupação com as minorias na Índia”, conclui.