
Mulheres esperam que os filhos sejam examinados para avaliar a subnutrição, numa clínica na província de Balkh, no Afeganistão. Foto © WFP/Julian Frank.
Com milhares e milhares a necessitarem de ajuda imediata no Afeganistão, as Nações Unidas anteciparam um próximo ano dramático para um total de 274 milhões de pessoas em todo o mundo.
Segundo os dados que constam do relatório Panorama Humanitário Mundial 2022 (GHO 2022, na sigla em inglês), divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), estes quase 300 milhões de pessoas irão precisar de algum tipo de ajuda humanitária no decorrer de 2022, que representa um aumento de 17% em relação a este ano.
“Em 2022, um total de 274 milhões de pessoas irão precisar de assistência humanitária e proteção — um aumento significativo em relação aos 235 milhões de há um ano, que já era o número mais alto em décadas”, lê-se no documento.
Este relatório, apresentado esta quinta-feira a partir de várias capitais do mundo, como Bruxelas, Genebra e Washington, aponta ainda a necessidade de encontrar 41 mil milhões de dólares (36 mil milhões de euros) para prestar ajuda, no decorrer do próximo ano, a 183 milhões de pessoas que necessitam de uma assistência urgente em 63 países.
Estas pessoas serão abrangidas pelos 37 planos de resposta humanitária conduzidos pela ONU e por organizações parceiras.
Para já, o drama imediato é o Afeganistão, em que a situação humanitária se degrada a cada dia que passa. O Programa Alimentar Mundial (PAM) lançou também esta quinta-feira um apelo para que a comunidade internacional não se esqueça do povo afegão.
A porta-voz do PAM no Afeganistão, Shelley Thakral, conta que há cada vez mais pessoas desesperadas. “A situação já é dramática no Afeganistão. Há muita gente a passar fome. Estamos a assistir a um aumento dos casos de subnutrição. Em muitas das clínicas que visitámos, vemos mães com filhos muito pequenos ao colo. Quando olhamos para eles, parece que têm sete ou oito meses, mas, na verdade, têm dois anos e meio.”
A porta-voz do PAM sublinha que a situação se agravou com a chegada dos taliban ao poder, estando já a atingir dimensões “dramáticas”. A pobreza estende-se agora às zonas urbanas. Desde agosto, com a retirada das tropas internacionais e a chegada dos taliban ao poder, milhares de pessoas perderam os empregos, deixaram mesmo de ter uma forma de sustento.
O país precisa de 220 milhões de dólares (cerca de 194,2 milhões de euros) por mês para que ninguém morra de fome.
A situação do Afeganistão ajuda ainda a ilustrar o que o GHO 2022 revela: mais de um por cento da população mundial está deslocada e a pobreza extrema está a aumentar novamente.
Na maioria das crises humanitárias, as mulheres e meninas são as que mais sofrem, à medida que as desigualdades de género e os riscos de proteção aumentam.