
O Presidente francês, Emmanuel Macron, reafirmou esta terça-feira, 5, que o Governo pretende experimentar o uso de uniformes nos estabelecimentos de ensino em França ou a implementação de códigos de indumentária. Foto © Milkos.
Apesar da recente lei que proíbe o uso de abayas nas escolas francesas, houve 298 raparigas que as levaram vestidas para as aulas nesta segunda-feira, 4 de setembro, dia em que teve início o ano escolar naquele país para os alunos do ensino secundário. Destas jovens, 67 recusaram-se, após “diálogo e pedagogia”, a retirar o longo vestido e “foram para casa”, avança o canal televisivo TF1.
“Uma grande maioria conformou-se com a interdição [de uso de abaya nas escolas], mas 67 alunas não aceitaram retirar e foram mandadas para casa”, confirmou o ministro da educação francês, Gabriel Attal, acrescentando que as famílias destas alunas receberam uma carta informando que “o secularismo não é uma restrição, é uma liberdade” e que, se voltassem à escola com a abaya, seria necessário um “novo diálogo”.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, reafirmou esta terça-feira, 5, que o Governo pretende experimentar o uso de uniformes nos estabelecimentos de ensino em França ou a implementação de códigos de indumentária. “A escola deve permanecer neutra. Eu não sei qual é a sua religião e você não sabe qual é a minha religião”, disse Macron em entrevista ao canal de Youtube HugoDécrypte.
Referindo que a medida não pretende estabelecer “paralelismos” nem “estigmatizar ninguém”, Macron sublinhou que “não se pode esconder o pó para debaixo do tapete”. Para o Presidente francês, não restam dúvidas: a abaya é um símbolo religioso utilizado para identificar as estudantes muçulmanas e “na luta para preservar a laicidade não se podem abandonar os professores e os diretores” dos estabelecimentos de ensino. “Não podemos fazer de conta que o assassinato de Samuel Paty não aconteceu”, assinalou ainda Macron, referindo-se ao professor do ensino secundário decapitado nos arredores de Paris em outubro de 2020, depois de ter mostrado uma caricatura do profeta Maomé numa aula sobre a liberdade de expressão.
A abaya é um vestido longo tradicional ou túnica que cobre o corpo e, segundo o Conselho Francês para o Culto Muçulmano (CFCM), não se trata de um símbolo religioso muçulmano. Desde a lei de 15 de março de 2004, nas escolas, faculdades e liceus públicos era já proibido “o uso de sinais ou trajes pelos quais os alunos demonstrem ostensivamente filiação religiosa”. Ao contrário do hijab (véu que cobre o cabelo, as orelhas e o pescoço), a abaya encontrava-se numa “zona cinzenta” e até esta segunda-feira o seu uso era permitido.
A associação Ação dos Direitos Muçulmanos fez um pedido ao Conselho de Estado, máxima instância judicial administrativa em França, para que suspenda a lei, o qual começou a ser estudado esta terça-feira.