
Abrigos provisórios em campos de refugiados improvisados em Ichwa (Makurdi-Benue), Nigéria. Foto © ACN Portugal/IPIC.
É uma das piores cheias registadas nos últimos anos: 600 pessoas já morreram, 1,5 milhões ficaram desalojadas, e centenas de milhares de hectares de terras agrícolas estão submersos na Nigéria, o que indicia o agravamento da situação de insegurança alimentar, num país onde 14 milhões de crianças estão já em risco de malnutrição.
“Inundações como estas nunca foram vistas antes”, afirma a irmã Enza Guccione, uma missionária italiana a viver numa aldeia próxima do rio Niger e frequentemente afetada pelas cheias. A religiosa falou ao telefone com o Vatican News e explicou que foram colocados à disposição da população “vários abrigos que acolheram mais de 100 mil pessoas”. Nesses abrigos, localizados nas grandes cidades, estão a ser distribuídos medicamentos, alimentos e água limpa. No entanto, às periferias e zonas rurais “ainda não chegou nenhuma ajuda”, alertou.
No final da audiência geral desta quarta-feira, o Papa Francisco referiu-se à situação vivida na Nigéria como uma “calamidade devastadora”, lembrando que as cheias causaram “muitas mortes, muitos desaparecidos e danos enormes” e pedindo que “a esses nossos irmãos e irmãs não faltem a nossa solidariedade e o apoio da comunidade internacional”.
As inundações vêm somar-se à já difícil situação vivida no país devido à agitação social. De acordo com dados fornecidos pelo Nigeria Security Tracker, citados pelo Vatican News, só no período entre janeiro e março de 2022 foram registadas 2.968 mortes e 1.484 sequestros.
Esta quarta-feira, 19, a revista Vida Nueva noticiou o rapto de um padre na diocese de Onitsha, no sudeste da Nigéria, uma das zonas mais afetadas pelo fenómeno dos sequestros tendo como objetivo a extorsão. No dia anterior, o jornal Crux dava conta de um ataque a uma igreja no norte do país. Um grupo de homens armados entrou a disparar enquanto decorria a missa, matando uma mulher e a sua filha.
Desde o início do ano, foram já registados pelo menos sete ataques a igrejas ou mesquitas no país. No passado mês de junho, um massacre na Igreja de São Francisco em Owo, no estado nigeriano de Ondo, provocou 40 mortos.