
Vista de Marselha a partir do Palais du Pharo, onde decorrerá a sessão final dos Encontros do Mediterrâneo, na qual o Papa marcará presença. Foto © Diocese de Marselha.
Francisco disse-o aos jornalistas, em jeito de piada, quando regressava da Jornada Mundial da Juventude: “Irei a Marselha, mas à França… não!”. Falava a sério. Esta sexta-feira, 22 de setembro, o Papa viaja até Marselha, não para visitar a segunda mais populosa cidade de uma das maiores potências europeias, mas sim porque é ali, naquela localidade portuária, que estão a decorrer os Encontros Mediterrâneos – um festival que reúne 70 jovens de diferentes crenças e 70 líderes religiosos dos países que fazem fronteira com o Mediterrâneo, para refletir sobre uma das suas grandes preocupações: o drama dos migrantes.
No Angelus do último domingo, Francisco recordou isso mesmo aos fiéis presentes na Praça São Pedro, referindo-se aos Encontros Mediterrâneos como “uma bela iniciativa que se realiza em importantes cidades do Mediterrâneo, reunindo líderes eclesiais e civis para promover percursos de paz, colaboração e integração em torno do mare nostrum, com especial atenção ao fenómeno migratório que não é um desafio fácil, como vemos também pelas notícias dos últimos dias, mas que deve ser enfrentado em conjunto, pois é essencial para o futuro de todos, que só será próspero se for construído sobre a fraternidade, colocando em primeiro lugar a dignidade humana, as pessoas concretas, especialmente as mais necessitadas.”
Assim, o Papa deixará Roma na tarde de sexta-feira, chegando pelas 16h15 (menos uma hora em Lisboa) ao aeroporto internacional de Marselha, onde será recebido pelo primeira-ministra francesa, Élisabeth Borne. E logo após saudar o clero diocesano, com o qual rezará na Basílica de Notre Dame de la Garde, visitará, pelas 18h00, o memorial dedicado aos “marinheiros e migrantes perdidos no mar”, num momento de oração e recolhimento com outros líderes religiosos.
O cardeal Jean-Marc Aveline, arcebispo de Marselha, anunciou que, após esse momento, Francisco vai encontrar-se também com alguns migrantes que chegaram a França pela “via alpina”, através de Itália.
Esta via passa por Briançon, situada nos Altos Alpes a 1326 metros de altitude, na região da Provença-Alpes-Costa Azul, a mais alta cidade francesa e a segunda da Europa (depois de Davos, na Suíça).
As centenas de migrantes que ali chegam todos os dias, assinala o jornal La Croix, tentam escapar aos controlos franceses atravessando a fronteira franco-italiana por caminhos perigosos, não só devido à altitude, mas também às temperaturas extremamente baixas.
Um dos pontos de acolhimento é a própria paróquia Sainte-Catherine de Briançon, além de algumas associações de ajuda humanitária comprometidas em ajudar os migrantes no mar e nas montanhas. E, uma vez em Marselha, o Papa faz questão de conhecê-los e escutar as suas histórias.
Já no sábado, e sem esquecer que em Marselha fica um dos bairros mais pobres da Europa, Francisco começará por receber em privado algumas pessoas em “situação económica difícil”, na casa das Missionárias da Caridade, congregação fundada pela Madre Teresa de Calcutá.
Logo depois, pelas 10h00, Francisco irá até ao anfiteatro de 900 lugares do Palais du Pharo, onde estará a decorrer a sessão final dos Encontros do Mediterrâneo. Aí, falará aos jovens (presentes pela primeira vez nos Encontros do Mediterrâneo – que vão na terceira edição), líderes religiosos e também aos representantes do corpo diplomático, das comunidades locais e aos muitos bispos franceses que marcarão presença no evento. seguindo-se um curto encontro com o presidente francês, Emmanuel Macron.
A missa de encerramento da visita, às 16h15, será no ‘Vélodrome’, o Estádio do Marselha, onde a lotação de 60 mil pessoas esgotou pouco tempo depois de terem aberto as inscrições. É que, apesar de a intenção do Papa não ser a de visitar França ou Marselha, a verdade é que muitos franceses, e em especial os marselheses aguardam ansiosamente a sua chegada (até porque o último pontífice que esteve em Marselha foi Clemente VII, no século XVI) e têm esperança de que esta que é a 44ª viagem internacional de Francisco nos seus dez anos de pontificado “traga um pouco de paz” à cidade, marcada por sucessivas ondas de violência ligada ao tráfico de droga.
Para o cardeal Jean-Marc Aveline, não há dúvidas: “o Papa vem para que possamos olhar com ele o Mediterrâneo, para que possamos ver os dramas que ali acontecem”. E um dos grandes desafios “é que a França compreenda a sua própria responsabilidade. Temos uma importante fachada mediterrânica. Ela não pode desviar o olhar.”