
“Chega esta altura do ano e começamos a ouvir, um pouco por todo o lado, as pessoas a lamentar a chegada do inverno, do frio e da chuva, já com saudades do verão.” Pintura: A RAINY DAY (Trabalho de criança, 13 anos). Foto © Dhanan Sekhar Edathara / Creative Commons. Licença (CC BY-ND 2.0)
Um dia, ao falarmos sobre um momento particularmente marcante da minha conversão, disse-me assim o meu Avô: “Filha, é só saber olhar: até na morte há beleza”. Se bem o disse, melhor o fez, pois morreu uns anos mais tarde, num triste Setembro belo, dando lugar a uns dos mais bonitos dias tristes da minha vida.
(sabe-se lá por que artes, juro-vos que, agora mesmo, ao fechar este parágrafo, entraram os primeiros acordes da música “Turn, Turn, Turn (To Everything There Is a Season”, na voz da Nina Simone)
Chega esta altura do ano e começamos a ouvir, um pouco por todo o lado, as pessoas a lamentar a chegada do inverno, do frio e da chuva, já com saudades do verão, ainda mal ele passou a porta. Fico sempre desconcertada quando ouço tais lamentações… Dá a ideia de que as pessoas fogem a sete pés de tudo o que possa chegar sequer perto de uma ideia de declínio, de fim de ciclo ou tristeza.
“Para tudo há um momento e um tempo para cada coisa que se deseja debaixo do céu” e eu, admito, gosto também de estar triste. Gosto de estar triste tanto quanto gosto de estar contente. Gosto de estar triste quando é para estar triste, como gosto de ter frio quando está frio, de usar guarda-chuva quando chove, ou sair sem casaco quando está calor.
Sou dessas a quem agradam todas as estações, e há uma coisa na tristeza que me fascina e me emociona, que é o quanto de beleza nela cabe. Francamente, o pensamento positivo é sobrevalorizado hoje em dia. Ter o cérebro sempre em modo bate-palmas-ao-sol-e-vês-que-ele-vem é desperdiçar uma parte da vida, demasiado bonita e preciosa para ser votada à beira do prato.
Não há como negar que o mundo é, muitas vezes, um lugar estranho. Podemos pôr os óculos cor-de-rosa, passar ao largo, virar a cara ou assobiar para o lado, porque “foca-te no bom”. Ou podemos pensar, aprofundar, questionar, e empurrar o barco da mudança. A beleza dos dias tristes é um privilégio dos inconformados.
P.S. – Escrevo este texto em honra às saudades que tenho do meu avô, por ocasião de todos os dias. Lembro-me dele sempre, mas quando muda a estação a coisa parece bater mais forte…
Ana Vasquez trabalha em Comunicação e Marketing.