
Para quem viaje para a Holanda ou países limítrofes, valerá a pena considerar um salto ao Rijksmuseum, em Amesterdão. Foto: Direitos reservados.
“Vermeer”: é a maior exposição de sempre do “mestre da luz” e está patente no Rijksmuseum, em Amesterdão, na Holanda, até 4 de junho próximo. Reunidas pela primeira vez, a partir de coleções de famosos museus dos Estados Unidos, de Berlim e de vários países da Europa, esta é uma possibilidade única de ver num só local as obras mais representativas de Johannes Vermeer, pintor setecentista nascido em 1632, que viveu 43 anos.
A exposição abriu no dia 10 deste mês de fevereiro e é completada com uma outra em Delft, cidade natal do pintor holandês – esta de teor essencialmente documental e histórico.
Muitos aspetos da vida de Vermeer continuam a ser um mistério e, durante séculos, a sua obra foi quase esquecida. Só a partir do século XIX se começou a redescobrir este artista do século de ouro da arte holandesa.
Há quem lhe chame um cineasta avant la lettre, pela sua arte de singularizar cenas e de as enquadrar, em jogos de luz e de sombra que não têm paralelo naquele tempo.
Para quem viaje para a Holanda ou países limítrofes, valerá a pena considerar um salto a Amesterdão. Mas, para quem não puder fazê-lo, o Museu anfitrião propõe uma espécie de curso em suporte audiovisual (em inglês), que permite conhecer o trajeto artístico, as técnicas usadas, os processos criativos, as influências, etc., num percurso que, não podendo competir com a visita presencial, tem outras vantagens, que só os recursos audiovisuais e multimédia permitem.
Convertido ao catolicismo?

Johannes Vermeer nasceu em ambiente protestante (calvinista) e num tempo em que a comunidade católica vivia acossada e acantonada num bairro próprio, não lhe sendo fácil celebrar publicamente a fé. Aos seus membros estava-lhes mesmo vedado ocupar cargos nos órgãos da cidade. Até por isso, não deve ter sido sem fortes constrangimentos que, aos 20 anos, ele se casou com uma conterrânea de família católica.
Num livro de Gregor J. M. Weber sobre o artista, “Johannes Vermeer: Fé, Luz e Reflexão”, que acaba de sair, a propósito da abertura da exposição, o autor investigou a fundo o contexto socio-religioso no tempo do pintor e não encontrou prova de que Vermeer se tenha convertido ao catolicismo. No entanto, em declarações à revista America, dos jesuítas dos Estados Unidos, ele argumenta que, nas condições da época, o facto de o artista ter feito um casamento católico, ter ido viver para o bairro dos católicos e ter recorrido, em vários dos seus quadros, a temáticas e simbólicas da fé católica, mostra que essa conversão dificilmente não teria ocorrido.
Weber vai mais longe, ao pôr em evidência vários factos bem documentados, que permitem hoje ter a clara noção da influência dos jesuítas no autor, não apenas no campo religioso, mas também no campo científico.
Em particular, sublinha o que se liga com estudos e experiências de física e, em concreto, de ótica, que estiveram por detrás da “câmara escura”. O modo como Vermeer ilumina as suas obras e trabalha o jogo entre a luz e as sombras denunciaria conhecimentos e influências que lhe chegaram, defende ainda, através de padres cientistas e teólogos da Companhia de Jesus.