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A denúncia, feita na passada quarta-feira (12 de Janeiro) passou despercebida, mas valeria a pena retê-la: o YouTube “é um dos principais canais de desinformação e informação deturpada online a nível mundial”.
Os acusadores, mais de 80 serviços e agências de verificação de factos de mais de 40 países, duas das quais portuguesas, começam por fazer notar que, quase dois anos após o início da crise mundial de saúde pública, “o mundo tem visto repetidas vezes o quão destrutivas podem ser a desinformação e a informação deturpada para a harmonia social, a democracia e a saúde pública; demasiadas vidas e meios de subsistência foram arruinados e muitas pessoas perderam entes queridos devido à desinformação”. A repreensão ao YouTube encontra-se numa carta aberta endereçada à directora executiva da empresa, na sequência de um trabalho de monitorização do “modo como as mentiras se espalham online”.
Os subscritores da carta apresentaram diversos exemplos de manipulação deplorável através do YouTube com consequências dramáticas. É o caso dos vídeos em línguas diversas e observados por milhões de pessoas de todo o mundo, a encorajar o boicote das vacinas e a promover falsas curas da covid-19. Mas a missiva também apresenta quatro propostas que poderão contribuir para reduzir a disseminação de desinformação e de informação deturpada no YouTube.
Em primeiro lugar, reclama-se “um compromisso para uma transparência significativa sobre a desinformação na plataforma: o YouTube deverá apoiar a investigação independente sobre as origens das diferentes campanhas de informação deturpada, o seu alcance e impacto, e as formas mais eficazes de desmascarar informações falsas”. Além disso, deve divulgar integralmente a sua política de moderação em matéria de desinformação e informação deturpada, “incluindo a utilização de inteligência artificial e quais os dados que a alimentam”.
A seguir, refere-se que, além de remover conteúdos por imposição legal, o YouTube deve preocupar-se em “fornecer contexto e oferecer desmentidos, claramente sobrepostos em vídeos ou como conteúdo de vídeo adicional”. Este empreendimento impõe uma “colaboração significativa e estruturada, assumindo a responsabilidade e investindo sistematicamente em esforços independentes de verificação de factos em todo o mundo, que estão a trabalhar para resolver estes problemas”.
Em terceiro lugar, é solicitada uma acção “contra infractores reincidentes que produzem conteúdos que são constantemente assinalados como desinformação e informação deturpada, sobretudo aqueles que monetizam esses conteúdos dentro e fora da plataforma, nomeadamente impedindo que os seus algoritmos de recomendação promovam conteúdos dessas fontes de informação deturpada”.
Por fim, é reivindicada a ampliação dos esforços actuais e futuros contra a desinformação e a informação deturpada em outras línguas para além do inglês, fornecendo dados específicos para cada país e idioma.
Pode suceder que as propostas sejam apenas um paliativo para um mal maior e que a resposta do YouTube seja inexistente ou frouxa, mas a carta tem o condão de chamar a atenção dos utilizadores da plataforma para a necessidade de terem cautela com o que vêem e ouvem, pois o que lhes é fornecido pode ser, como frequentemente é, desinformação e informação deturpada.