Exterminados pelos nazis

A história dos Ulma: a família inteira – e numerosa! – que vai ser beatificada

| 8 Set 2023

 

Wiktoria Ulma com os filhos no outono de 1943. A partir da esquerda Władzio, Stasia (que segura Marysia), Franuś (nos ombros), Basia i Antoś . Foto DR, via Vatican News.

Wiktoria Ulma com os filhos no outono de 1943. Foto: Direitos reservados.

 

O pai, a mãe, e os seus sete filhos (um deles recém-nascido, com minutos de vida): todos serão beatificados no próximo domingo, 10 de setembro, naquele que é um processo canónico inédito na História da Igreja Católica. Exterminados por esconderem oito judeus na casa onde viviam, em Markowa (pequena aldeia no sudeste da Polónia), os Ulma já haviam sido considerados Justos entre as Nações pelo Estado de Israel, em 1955. Agora, ganham honras de altar.

Casaram em 1935, quatro anos antes do início da Segunda Guerra Mundial. Józef trabalhava no campo –  era agricultor e apicultor – e, nos tempos livres, dedicava-se à fotografia; Wiktoria cuidava da casa e das crianças.

Na manhã do dia 24 de março de 1944, após ter recebido uma denúncia de que estariam a dar abrigo a judeus, uma patrulha nazi cercou a sua casa: começaram por atirar em direção ao teto, onde se encontrava o sótão, de onde o sangue dos oito judeus ali escondidos (Shaul Goldmann, com os seus quatro filhos, Lea Didner, com a sua filha Reshla, de cinco anos, e Golda Grünfeld). começou a escorrer.

Em baixo, no lugar onde caía o sangue, havia uma mesa sobre a qual tinha sido colocada – não se sabe o motivo – uma foto das duas mulheres judias. No braço de uma delas estava desenhada a estrela de David. Esta foto foi conservada até hoje como “relíquia” deste martírio judaico, e também cristão.

Jozef e Wiktoria Ulma, um ano após o seu casamento, em 1936. Foto: Józef Ulma, museumulmow.pl

Józef e Wiktoria Ulma, um ano após o seu casamento, em 1936. Foto © Józef Ulma, museumulmow.pl.

Depois, trouxeram o casal para fora de casa e dispararam sobre Józef e Wiktoria, que estava grávida de sete meses. Quando as crianças começaram a gritar ao verem os seus pais a serem assassinados, os nazis dispararam também sobre elas: Stanisława, de oito anos, Barbara, de sete, Władysław, de seis, Franciszek, de quatro, Antoni, de três, e Maria, de dois. No fim, incendiaram-lhes a casa, para que não restassem dúvidas aos habitantes daquela pequena aldeia: aquilo era o que lhes aconteceria também a eles, caso arriscassem ajudar os judeus.

Mais tarde, no momento em que o corpo de Wiktoria ia ser colocado dentro do caixão, percebeu-se que, do seu ventre, saíam já a cabeça e parte do corpo do bebé recém-nascido. Na iminência do extermínio da família, teria começado a dar à luz.

A história desta família ganhou fama nacional na Polónia e, em menor grau, um pouco por todo o mundo em 2003, quando a arquidiocese de Przemyśyl iniciou o seu processo de canonização. A fama cresceu quando o Papa Francisco aprovou o decreto sobre o martírio dos Ulma, a 17 de dezembro do ano passado, abrindo caminho para a sua beatificação.

A cerimónia deste domingo – para a qual são esperadas cerca de 35 mil pessoas – ficará marcada como a primeira vez que uma família inteira é beatificada. Será presidida pelo cardeal italiano Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos do Vaticano, e nela deverá participar também o rabino-chefe da Polónia, Michael Schudrich.

Na pequena aldeia de Markowa, com perto de 4.500 habitantes, o evento é aguardado com ansiedade e orgulho. A família Ulma é símbolo da coragem e compaixão de tantos outros polacos. Estima-se que 300 mil tenham escondido e ajudado judeus durante a Segunda Guerra Mundial, e que cerca de mil tenham sido executados.

 

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