A importância nem sempre é relevante – sobre a ressurreição

| 15 Abr 2023

Ressurreição © Alberto Teixeira

© Alberto Teixeira

 

Não sei grego nem latim e o conhecimento que tenho dessas línguas constam do despertar que recebi no secundário, para a sua importância na formação da língua portuguesa, na cultura e pensamento em Portugal.

Hoje li um texto sobre a palavra “ressurreição” em português e os equivalentes vocábulos gregos e latinos usados nos textos do Novo Testamento. O texto, escrito por Frederico Lourenço, cujas traduções da Sagrada Escritura têm sido muito celebradas, debruça-se sobre a importância da sintaxe desses vocábulos, mas também me parece passar em tangente um certo “dualismo” no discurso – segundo a qual existe uma separação entre a matéria e o espírito, quando se refere a Jesus como a “linha direita que marca a fronteira” entre o mal e o bem. 

Sobre o “dualismo” e a sua afirmação no pensamento na antiguidade grega já foram escritas muitas páginas: o zoroatrismo mesopotâmico, o maniqueísmo, o arianismo, mais recentemente o islão, sem esquecer o movimento gnóstico transversal ao judaísmo e cristianismo. 

Mas sobre a ressurreição, como elemento central e importante da fé cristã, não pode a sua relevância emergir da análise sintáctica, ainda que seja muito douta e irrepreensível; a semântica gravada nas pedras do tempo construiu um edifício complexo e diversificado sobre o que podemos entender por “ressurreição” e os tradutores não deixam de veicular o seu pensamento e influências nas suas obras.

A discussão sobre este assunto e outros não deixa de ser relevante e deve existir, para que, no caso dos cristãos, eles se revistam na Fé que professam; nem que seja para despertar as mentes de um certo torpor religioso.

Os cristãos cremos na total ressurreição da alma e do corpo, como vitória de Jesus Cristo sobre a morte e o pecado, conforme ensinado por Jesus e transmitido pelos evangelistas e por Paulo.

A ressurreição é central e tem raízes no judaísmo (os saduceus, principais perseguidores de Jesus, recusavam-na): “Assim diz o Senhor Deus a esses ossos: Eis que vou fazer entrar em vós o sopro da vida e vivereis” (Ezequiel 37:5). Esta é uma passagem de um texto muito pungente e dramático quando Ezequiel pregava; lida no Sábado intermédio da Páscoa Judaica, recorda a libertação do Povo de Deus e a sua Redenção.

Para o pensamento actual, a ressurreição do corpo é algo incrível, mas quando abordado segundo o olhar da fé em Deus, o renascimento torna-se mais milagroso que o nascimento.

A ideia de renascimento, porque nunca a experimentámos, pode parecer menos relevante que o maravilhoso processo de fertilização e desenvolvimento do intrincado sistema biológico, com um cérebro complexo, onde também residem as emoções. Podemos participar na criação da vida, mas não podemos participar na recriação de Deus; tanto mais que a recriação de Deus não integra a teoria biológica, ainda que esta esteja a atingir um desenvolvimento crescente, como demonstram as sucessivas experiências e realizações de biólogos, que são criaturas criadas à imagem e semelhança de Deus.

Cremos que a sabedoria dos homens está no plano de Deus e que a recriação de Deus é como a chuva que toca a quietude de inverno que fez cair folhas e apodrecer frutos, para fazer os botões brotarem, as flores eclodirem e as frutas coloridas irromperem; mas nem todas as plantas reviverão, como nem todos os seres humanos farão parte da comunidade dos justos que ressuscitarão.

A ressurreição emerge na confiança do ser humano em Deus e na sua Graça e recompensa em reavivar os que, estando mergulhados na escuridão da morte, querem a Luz da vida.

Cada cristão não pode estar separado da sociedade onde vive e, se pretende incorporar a comunidade dos justos, tem que se aproximar de Cristo. Cremos que o corpo e a alma são criações inequívocas de Deus, sem depreciar a sua existência física, porque esta não se opõe ao espírito e corpo e alma ressuscitarão, porque ambos são dons de Deus. A existência física participa activamente na existência espiritual unindo-se pelas virtudes que mantém, cada um de nós conscientes do valor do mundo e de toda a criação que nos rodeia e de que devemos cuidar.

Na conversão a Cristo ocorre um renascimento espiritual, que no baptismo se compara com a morte e ressurreição de Jesus; conversão do corpo que se abre ao Espírito de Deus e tem de se manifestar pelo testemunho de cada um entre todos.

A vitória de Jesus sobre a morte e o pecado é a nossa libertação e perspectivada redenção para a vida eterna e incorruptível.

A relevância da ideia que cada um tem da ressurreição é superior à importância da sua sintaxe.

Alberto Teixeira é cristão ortodoxo

 

Bispos dos EUA instam Congresso a apoiar programa global de luta contra a sida

Financiamento (e vidas) em risco

Bispos dos EUA instam Congresso a apoiar programa global de luta contra a sida novidade

No momento em que se assinala o 35º Dia Mundial de Luta Contra a Sida (esta sexta-feira, 1 de dezembro), desentendimentos entre republicanos e democratas nos Estados Unidos da América ameaçam a manutenção do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Sida (PEPFAR), que tem sido um dos principais financiadores do combate à propagação do VIH em países com poucos recursos. Alarmados, os bispos norte-americanos apelam aos legisladores que assegurem que este programa – que terá já salvo 25 milhões de vidas – pode continuar.

Para grandes males do Planeta, grandes remédios do Papa

Para grandes males do Planeta, grandes remédios do Papa novidade

Além das “indispensáveis decisões políticas”, o Papa propõe “uma mudança generalizada do estilo de vida irresponsável ligado ao modelo ocidental”, o que teria um impacto significativo a longo prazo. É preciso “mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários”. É necessário escapar a uma vida totalmente capturada pelo imaginário consumista.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

“Em cada oportunidade, estás tu”

Ajuda em Ação lança campanha para promover projetos de educação e emprego

“Em cada oportunidade, estás tu” é o mote da nova campanha de Natal da fundação Ajuda em Ação, que apela a que todos os portugueses ofereçam “de presente” uma oportunidade a quem, devido ao seu contexto de vulnerabilidade social, nunca a alcançou. Os donativos recebidos revertem para apoiar os programas de educação, empregabilidade jovem e empreendedorismo feminino da organização.

Não desviemos o olhar da “catástrofe humanitária épica” em Gaza

O apelo de Guterres

Não desviemos o olhar da “catástrofe humanitária épica” em Gaza novidade

A ajuda que as agências da ONU estão a dar aos palestinianos da Faixa de Gaza, perante aquilo que o secretário-geral considera uma “gigantesca catástrofe humanitária”, é manifestamente inadequada, porque insuficiente. A advertência chega de António Guterres, e foi proferida em plena reunião do Conselho de Segurança, que ocorreu esta quarta feira, 29, no tradicional Dia de Solidariedade com o Povo Palestiniano.

“Não deixeis que nada se perca da JMJ”, pediu o Papa aos portugueses

Em audiência no Vaticano

“Não deixeis que nada se perca da JMJ”, pediu o Papa aos portugueses novidade

O Papa não se cansa de agradecer pela Jornada Mundial da Juventude que decorreu em Lisboa no passado mês de agosto, e esta quinta-feira, 30, em que recebeu em audiência uma delegação de portugueses que estiveram envolvidos na sua organização, “obrigado” foi a palavra que mais repetiu. “Obrigado. Obrigado pelo que fizeram. Obrigado por toda esta estrutura que vocês ofereceram para que a Jornada da Juventude fosse o que foi”, afirmou. Mas também fez um apelo a todos: “não deixeis que nada se perca daquela JMJ que nasceu, cresceu, floriu e frutificou nas vossas mãos”.

O funeral da mãe do meu amigo

O funeral da mãe do meu amigo novidade

O que dizer a um amigo no enterro da sua mãe? Talvez opte por ignorar as palavras e me fique pelo abraço apertado. Ou talvez o abraço com palavras, sim, porque haveria de escolher um ou outro? Os dois. Não é possível que ainda não tenha sido descoberta a palavra certa para se dizer a um amigo no dia da morte da sua mãe. Qual será? Porque é que todas as palavras parecem estúpidas em dias de funeral? 

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This