A luz que triunfa sobre as trevas – Natal na tradição ortodoxa

| 4 Jan 2022

Ícone da Natividade

 

O Natal, na ortodoxia, celebra-se a 25 de Dezembro do calendário juliano, que no calendário civil (gregoriano) em uso corresponde a 7 de Janeiro.

A escolha desta data para celebrarmos o nascimento de Jesus o Cristo não tem fundamento histórico, existindo notícia de que a Natividade já se celebrava com alguma relevância no século III, junto com a Epifania, de 6 para 7 de Janeiro (25 de Dezembro do calendário Juliano), com justificações muito bem elaboradas, mas que não podem ser consideradas com rigor factual e histórico.

Na Igreja primitiva e durante vários séculos em muitas regiões, sempre foi dada primazia à celebração da Epifania, como primeira manifestação gloriosa de Cristo, não se celebrando o seu nascimento. Ainda hoje a primazia da Epifania sobre a celebração do Natal se manifesta nos actos litúrgicos de algumas igrejas orientais.

Ícone da Epifania

No entanto, a devoção dos fiéis tem-se inclinado para o Natal em desfavor da Epifania, que é uma grandiosa celebração da vinda do Senhor. Acresce que a celebração do Natal em parte alguma do Novo Testamento tem primazia como festa litúrgica, o que é diferente do que ocorre com outras como a Páscoa e a Epifania – esta última terá servido mesmo de modelo para a celebração do Natal.

Por influência da economia das sociedades, o Natal chega a ter mais relevo que a Páscoa.

Do Concilio de Niceia no ano de 325(1) há referência à celebração conjunta das duas festas nas constituições de Alexandria, ao ser tratada a questão da data para a Páscoa, optando os santos padres por aceitar a prática e costumes em vigor naquela região. Outros eventos posteriores ajudaram a fixar, definitivamente, a data de Natal a 25 de Dezembro e o assunto tem sido doutamente discutido ao longo de séculos.

Actualmente, muitas Igrejas Ortodoxas locais passaram a celebrar as festas do Natal e Epifania, não em conformidade com o calendário juliano, mas seguindo o calendário civil em uso (gregoriano), por razões pragmáticas, devido à importância da migração entre países orientais e ocidentais.

Tropário de Natal

Tropário de Natal cantado pelas monjas do Mosteiro do Nascimento da Mãe de Deus no Carregado, Vila Franca de Xira

Teu nascimento,
Ó Cristo, nosso Deus, fez resplandecer no mundo a luz da ciência.
Pois nela, os adoradores dos astros,
Foram instruídos pelo astro a Te adorar,
Sol da Justiça, e a Te contemplar,
Oriente que vens das alturas,
Senhor, Glória a Ti.

O presbítero deposita o ícone da Natividade frente às Portas Reais, engalanando-o de flores; posteriormente será venerado pelos fiéis.

O canto do Tropário (2), cujo texto varia com as tradições locais, exalta o nascimento de Jesus como uma inspiração do Espírito Santo sobre os seres humanos, na indivisível Festa, onde o Natal é o princípio, culminando na Epifania.

É um momento de excepcional oportunidade para nos convertermos Àquele que vem.

Kontakion

Hoje a Virgem dá à luz o Eterno,
E a Terra é uma gruta ao Inacessível!
Os anjos e os pastores louvam-No!
E os magos com a estrela avançam!
Pois Tu nasceste para nós, menino, Deus Eterno! (3)

A incarnação do Verbo faz-se pela Luz que triunfa sobre as trevas, convertendo a própria noite na claridade divina.

Neste acontecimento contemplamos o Eterno através de um acontecimento histórico, assim espiritualizando o Natal.


Notas
1) O primeiro Concilio de Niceia foi uma tentativa colegial para encontrar consenso entre as diversas igrejas, que resultou na separação definitiva de algumas facções e fixou a questão sobre a natureza divina de Cristo e sua relação com Deus Pai, a fórmula para a primeira parte do Credo, a data para a celebração da Páscoa e as primeiras regras para uma lei canónica. 

2) Tropário é um hino na música bizantina,na Igreja Ortodoxa e outras igrejas cristãs orientais. É um hino curto de uma estrofe, ou uma de uma série de estrofes, que pode ser interpolado entre versos de um salmo.

3) Kontakion, também kondakion, é um hino temático que já foi mais extenso. A autoria do mais conhecido é atribuído a São Romano, o Melodista (séc.VI).

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