
“Há uns tempos, perguntei a uma série de amigos a razão pela qual existem empresas. Todos, de uma forma ou outra, referiram a criação de valor económico e de postos de trabalho como alguns dos principais objetivos. Mas, e há sempre um mas, ficou patente que é necessário (senão urgente) ir para além disso.” Foto retirada de vídeo “Sustentabilidade: desafios da década 2020”, site BCSD Portugal
Vivemos tempos exigentes e instáveis, que colocam novos desafios à forma como nos organizamos enquanto sociedade e como pensamos e estruturamos as instituições e formas de trabalho, mas também novas oportunidades e formas de pensarmos a vida em comunidade.
Também aqui as empresas podem e devem ter um papel fundamental, ao contribuírem cada vez mais para o desenvolvimento de comunidades mais saudáveis e sustentáveis. Em 2000, o então secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, lançou uma iniciativa ímpar, o United Nations Global Compact, com o objectivo de mobilizar empresas a criar um mundo mais sustentável, através de uma série de medidas que comprometia diversas empresas neste caminho. Desde então muito se tem feito, e muitos são os exemplos de como as empresas se têm mobilizado no desenvolvimento de projetos e soluções mais sustentáveis e comprometidas com o desenvolvimento social. Em Portugal, surgiram também, na mesma referência temporal, organizações dedicadas exclusivamente a apoiarem as empresas neste caminho, de que são exemplo o GRACE – Empresas Responsáveis, e o BCSD Portugal.
Há uns tempos, perguntei a uma série de amigos a razão pela qual existem empresas. Todos, de uma forma ou outra, referiram a criação de valor económico e de postos de trabalho como alguns dos principais objetivos. Mas, e há sempre um mas, ficou patente que é necessário (senão urgente) ir para além disso.
A verdade é que a realidade mudou, não só por mero capricho, mas porque as exigências e desafios que vivemos já não nos deixam ficar no caminho que sempre foi seguido e que sempre foi confortável. Os consumidores já não são os mesmos, os colaboradores já não são os mesmos, os investidores já não são os mesmos. Exigimos hoje às empresas que também elas sejam agentes ativos na transformação e com um propósito claro que beneficie a comunidade.
Sobre o propósito de uma empresa, gosto sempre de recordar uma frase de Charles Handy, um dos mais influentes pensadores da gestão, que refere que “o propósito de um negócio, por outras palavras, não é dar lucro. É ter lucro para que as empresas possam fazer algo mais e consequentemente melhor para a sociedade.”
Esse “algo” torna-se, cada vez mais, a verdadeira justificação para o desenvolvimento de uma empresa. O exemplo claro de como a mudança deve acontecer.
Afonso Borga fez um mestrado em Estudos de Desenvolvimento e uma tese sobre os eco-bairros em Portugal. Trabalha como gestor de Responsabilidade Social na Auchan.