
“Barricada pela Paz” na Ucrânia, promovida por escolas de Braga: “A não-violência carece de ser explicada e compreendida.” Foto © Eduardo Jorge Madureira.
A não-violência carece de ser explicada e urge ser compreendida, como recurso que se articula em torno da palavra e dos nossos corpos e que é intransigente na defesa do direito e da autonomia e das liberdades públicas.
Os resistentes à guerra, também portugueses, têm muita história, que se articula também com a resistência à guerra colonial, que passa pelas lutas contra o Serviço Militar Obrigatório e claro, antes, pela objecção de consciência. Que passa pela oposição à cultura de guerra que entre nós sempre foi patrocinada por quem só se opunha às armas de um dos lados – e que hoje continua a procurar álibis para tomar o partido errado, o da continuação da guerra – e que sempre nos teve atravessados à sua frente, fosse no discurso, fosse na oposição a essa visão redutora e unilateral.*
A nossa resistência à guerra sempre foi articulada com conceitos de defesa da vida e do ambiente, com lógicas de conservação da natureza e recursos, que são destruídos pelas máquinas militares e as indústrias que lhe estão por trás, em qualquer das suas formas. Recordemos que os piores pesticidas, os mais tenebrosos químicos foram testados em guerras e de igual forma a nuclear civil é um fruto contaminado da nuclear militar, hoje infelizmente disseminada por todo o mundo que sofre as consequências das emissões radioactivas.
Infelizmente os média, na sua lógica de venda de um produto, e pensando que a opinião publicada ou difundida é a que interessa ao público, que numa lógica de pescadinha de rabo na boca segue essa lógica e a continua, não encontra espaço para discursos alternativos que geram humanidade.
Continuamos a desenvolver informação do mais: mais armas, mais combates, mais mortes, mais carnificinas, mais feridos, mais armas. Um ciclo vicioso que tem que ser rompido com novos recursos. A não-violência é o caminho para acabar com a guerra, a não-violência e a resistência civil nesse âmbito são fundamentais para alterar os paradigmas dominantes. Se começarmos a falar disso, de exemplos históricos, mas também de tantos, tantos outros de actualidade, que todos os dias estão a ocorrer.
Na Rússia, na Ucrânia, em todo o mundo somos muitos, que de formas diversas dizemos não à guerra e propomos outra coisa. E iremos romper o silêncio.
* Os resistentes à guerra também têm sido os principais resistentes ao discurso do contra “esta” guerra, em nome de outra coisa, patrocinado por um dos lados da mesma.
António Eloy é escritor e coordenador do Observatório Ibérico de Energia; neste domingo, 15 de Maio, assinala-se o Dia Internacional do Objector de Consciência