As armas nucleares foram um sério e persistente motivo de preocupação para Mafalda, a menina criada por Quino. Em várias circunstâncias, a pacifista Mafalda partilha um medo mundialmente vivenciado durante o período da Guerra Fria, mostra a irracionalidade da escalada armamentista e enaltece a paz.
O relevante papel de Mafalda – ou, se se preferir, da tomada de posição de Quino – para a construção de uma consciência comum contra o belicismo é amplamente reconhecido e foi objecto de diversos trabalhos universitários.
A aparente inocência infantil de Mafalda dissimula uma argutíssima observadora das pequenas questões quotidianas e dos grandes problemas do mundo. Com uma sofisticada ironia, a simpática Mafalda, que não gosta de comer sopa, fala-nos ainda hoje de grandes temas como, por exemplo, a discriminação da mulher, os abusos do poder, designadamente político, ou os malefícios do capitalismo.
Perante cada problema, Mafalda oferece uma receita simples para o resolver. Esse apelo à simplicidade e ao bom senso é ainda hoje um modo avisado de promover o bem comum e de resistir a tudo o que o possa prejudicar ou impedir.
No final de uma semana em que o 7MARGENS dedicou vários textos à questão das armas nucleares, e que incluiu uma entrevista ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, a propósito da entrada em vigor do Tratado de proibição das Armas Nucleares, nada melhor que encerrar a série com a referência às mensagens aparentemente infantis de Mafalda e dos seus apelos a um mundo sem armas.
Imagens extraídas de O medo e o risível da guerra fria representados nas tiras de Mafalda e no filme Dr. Strangelove, trabalho de Rafael Cardoso Rodrigues, apresentado na Universidade Estadual de Londrina.