
Ao deparar-se com os objetos religiosos profanados, os jovens revelam choque, consternação e compaixão. Foto © Clara Raimundo.
“Impressionante”, “comovente”, “absolutamente necessária”… O impacto que a exposição de artigos religiosos profanados e danificados no Iraque – promovida pela Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) e patente na Basílica dos Mártires, em Lisboa, até esta sexta-feira, 4 de agosto – é percetível nas palavras que os jovens usam para descrevê-la, e bem visível na expressão do seu olhar, entre o choque, a consternação e a compaixão, à medida que se deparam com os objetos expostos e ganham consciência de que cristãos como eles foram – e continuam a ser – perseguidos.
Crucifixos quebrados, custódias destruídas, ícones e cálices trespassados por balas, oferecidos pela Igreja Caldeia e Sírio-Católica do Iraque, podem ser vistos ao longo do pequeno batistério da basílica. “Não são muitos objetos, e estão em silêncio, mas é como se gritassem”, afirma o jornalista Paulo Aido, do departamento de comunicação da Fundação AIS, que tem acompanhado muitos dos jovens na sua visita à exposição.
“Tem sido muito interessante observar como tantos jovens, e menos jovens também, ficam sensibilizados ao constatar o que significou esta violência para com a comunidade cristã iraquiana na Planície de Nínive quando os jihadistas do auto-proclamado estado Islâmico ocuparam estas terras bíblicas”, diz Paulo Aido ao 7MARGENS, e acrescenta: “Ficam sensibilizados ao ponto de perguntarem como podem colaborar connosco, e é fascinante perceber que, com a Jornada Mundial da Juventude, estamos a alargar esta onda de solidariedade para com os cristãos perseguidos ou que sofrem algum tipo de violência”.
Sempre que possível, Paulo faz questão de recordar aos visitantes que “foi precisamente há nove anos, nos primeiros dias de agosto de 2014, que esta violência começou”, e que ainda não terminou. Milhares, cerca de cem mil, deixaram de um dia para o outro as suas casas, as suas terras, as suas memórias. “E muitos deles eram crianças e jovens, como aqueles que nos têm visitado. Pessoas reais, com um rosto, com B. I.”, sublinha o jornalista.
O ódio aos cristãos ficou patente nas casas, igrejas, hospitais e escolas, que foram saqueados e destruídos. “Os objetos que aqui temos revelam que se tratou de ódio puro e gratuito”, afirma Paulo Aido, e aponta para um ícone da anunciação a Nossa Senhora, com uma bala cravejada. “Andaram a fazer tiro ao alvo”, assegura.

“Nós, jovens que viemos à Jornada, temos o dever de ajudar”
A Fundação Pontifícia não contabilizou ainda o número de visitantes da exposição, mas Paulo Aido não tem dúvidas: “Já passaram por aqui milhares de jovens”. Edward Raine, 22 anos, foi um deles. Quando se dirigiu à Basílica dos Mártires, no Chiado, na tarde desta quinta-feira, 3 de agosto, o seu objetivo era venerar as relíquias do beato italiano Carlo Acutis. Mas um cartaz alusivo à exposição da Fundação AIS, logo à entrada, chamou a sua atenção.
O estudante de História, vindo de Inglaterra, conta ao 7MARGENS que se lembrou de imediato das imagens que viu na televisão por altura do início da perseguição, tinha ele 14 anos. E fez questão de entrar. “É completamente diferente vermos as coisas pela televisão e confrontarmo-nos com a realidade, através destes objetos concretos”, partilha.

Edward observou atentamente todos os objetos, demorando-se em cada um deles, numa atitude quase orante. “Tenho visto esta atitude em muitos jovens, sinto que veem a exposição com o coração”, afirma Paulo Aido.
Ao sair, o jovem inglês partilhou que sim, “é importante orar”, mas “é preciso mais do que isso”. “Além de rezarmos, temos o dever de contribuir para alertar para o que se passa com esta comunidade e outras no mundo inteiro que continuam a ser perseguidas, e também de apoiar instituições como a Fundação AIS”, afirmou. “E nós, jovens, que tivemos dinheiro para vir à Jornada Mundial e que se calhar saímos daqui e vamos comprar um crucifixo ou um souvenir qualquer na loja mais próxima, podemos e devemos usar esse dinheiro para ajudar de uma forma mais efetiva”.
O testemunho de Edward vem confirmar aquilo que Paulo Aido já pensava e sentia: “É empolgante estar aqui, e fazer este trabalho. Com esta pequena exposição, estamos a lançar uma semente em terra fértil. E podemos estar a salvar vidas”.