Em cada um destes espaços, descobrimos particularidades, modos de vida muito diferentes dos atuais, que nos fazem pensar como se articulam os hábitos e horários medievais, enxertados com as modernas tecnologias do nosso século XXI.
Foi uma oportunidade de, enquanto amigos, nos revermos, de prosseguirmos conversas inacabadas, que vêm dos tempos passados, e retomar alguma da antiga normalidade que nos foi retirada, nestes tempos únicos e difíceis que a covid-19 nos veio trazer.
É comum dizer-se que todos precisamos de silêncio, de tempos de interiorização e de contemplação. Habitualmente, falamos destas necessidades quando avaliamos as nossas vidas, quando passamos em revista as nossas carreiras, no trabalho, na sociedade e na família. Aqui, primeiro, com o apoio ao crescimento dos mais novos e depois na assistência aos mais velhos. E não esquecemos que em tudo isto temos em conta todas as interações que fazemos com tudo o que na nossa sociedade nos rodeia, como os familiares, os amigos, os colegas de trabalho.
E para os que já estão na reforma, esta fase da vida é aquela que se pretende que seja diferente, da anterior do trabalho intenso, e em que dizemos “finalmente, vou ter um tempo para mim”. Desejamos que esta seja uma época com tempo para muitas leituras, viagens, visitas e também, com alguma meditação e contemplação.
Queremos uma vida sem horários, para fazer o que não houve oportunidade para concretizar, mas verificamos que muitos se voltam a queixar de que ainda lhes falta de tempo para tudo.
Vão-se arranjando muitas, e válidas justificações, para explicar tudo isto, mas a sensação de que falta alguma coisa, mais profunda, continua a atormentar.
Quando refletimos sobre isto, do pouco destaque que na nossa vida tem tido a oração, o silêncio, a contemplação, procuramos corrigir essa nossa trajetória, e prometemos (a todos os santinhos), que a partir de agora é que será diferente. Anunciamos, solenemente, que estamos dispostos a ter uma forma de vida que contemple todas estas valências, que consideramos muito necessárias para o nosso equilíbrio.
É certo que, ao longo dos anos, as nossas opções e prioridades foram mudando, mas isso sabemos que se deve às várias circunstâncias que rodearam a nossa vida.
Apesar dos constrangimentos ainda vigentes, somos continuamente desafiados para múltiplas tarefas e muitas vezes simultâneas, que não nos dão espaço para fazer uma escolha, que queremos que seja acertada. Se optamos por uma, ficamos com pena de não termos optado pela outra.
É uma constante insatisfação.
Nas visitas a estes mosteiros, deparámo-nos com este confronto, mas também complementaridade. Queremos silêncio e contemplação, mas também sentimos falta de algum movimento e ruído.
Ana Maria Nunes Gonçalves é farmacêutica; António José Boita Paulino é engenheiro eletrotécnico.