Na celebração dos 50 anos do Copic, o presidente da Conferência das Igrejas Europeias, Christian Krieger, foi um dos intervenientes, falando sobre o modo como esta estrutura entende o papel das igrejas no momento presente da vida da Europa. Por essa razão, o 7MARGENS publica o essencial dessa intervenção.

Christian Krieger durante a intervenção no culto que celebrou os 50 anos do Copic. Foto captada da transmissão vídeo.

 

É com imensa honra e profunda gratidão que participo neste culto celebrativo por ocasião do 50º aniversário da fundação do Conselho Português de Igrejas Cristãs [Copic]. O tema desta celebração [Unidos no amor e na esperança] evoca o elo da unidade, que liga os seguidores de Cristo uns aos outros em amor e esperança. Uma ligação de fraternidade e esperança que não está limitada apenas a eles, mas abraça a humanidade e o mundo vivo na sua aspiração a viver em paz e justiça.

Por isso, estou particularmente feliz por vos trazer (…) as calorosas e fraternas saudações da Conferência de Igrejas da Europa [CEC, da sigla em inglês], uma organização de cooperação ecuménica fundada em 1959, numa Europa ainda devastada pela Segunda Guerra Mundial, sujeita às tensões geopolíticas que dividiram os países entre Leste e Ocidente durante décadas.

A CEC foi fundada precisamente para afirmar a unidade dos cristãos, a ligação entre as igrejas presentes nos países divididos de ambos os lados da Cortina de Ferro. Daí que reconciliação, paz e unidade estão no coração da mensagem que ela promove. A CEC dá hoje voz a 114 Igrejas (Igrejas Protestantes, Anglicanas e Ortodoxas), em mais de 40 países europeus, junto das instituições europeias, a União Europeia e o Conselho da Europa. E fazemo-lo em estreita comunhão com Conselho das Conferências Episcopais da Europa [CCEE] que representam as nossas irmãs e irmãos da Igreja Católica. Na verdade, como poderia o apelo das Igrejas à reconciliação e à unidade ser credível se não fôssemos capazes de o testemunhar uns com os outros em espírito de irmandade e unidade?

Recentemente, no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia, conjuntamente com o cardeal Hollerich, presidente da Comissão dos Episcopados da União Europeia [Comece] tivemos oportunidade de reunir com o ministro de Estado e Assuntos Europeus, Sr. Augusto Santos Silva, e de expressar a nossa apreciação das prioridades propostas por Portugal para esta Presidência da União Europeia. Gostaria de enfatizar aqui (…) o modo como as Igrejas Cristãs tão bem acolheram os resultados da Cimeira Social do Porto, que incluíram os mecanismos para a recuperação económica, não só o princípio da transição energética para uma economia sustentável com mais respeito pelo ambiente, como também o desejo de trabalhar para uma maior justiça social através da formação, educação e protecção social, com vista a reduzir de forma mais significativa o número de pessoas pobres na Europa.

 

Preocupações com migrações e liberdade religiosa

Christian Krieger está preocupado com o novo Pacto da UE para a Imigração. Foto: Direitos reservados/via Religión Digital.

 

Pudemos também expressar a grande preocupação das Igrejas com o novo Pacto da União Europeia para a imigração, que do nosso ponto de vista retoma uma linha política anterior e não tem em conta a emergência humanitária que está a ser vivida (e com perdas de vidas) no Mediterrâneo e pontos de chegada; [e] as questões das relações de parceria com África, e em particular a situação em Moçambique, que é particularmente preocupante.

Um dos assuntos que atualmente preocupa as Igrejas europeias na Europa é a liberdade religiosa. A necessidade de fortalecer as leis securitárias resulta na complicação do exercício da liberdade religiosa, especialmente por minorias ou igrejas não autóctones. No seu trabalho junto das autoridades europeias, a CEC e a Comece prestam particular atenção a esta questão, que no processo de secularização das sociedades europeias parece estar a tornar-se cada vez mais sensível. Não se trata apenas de proteger interesses, direitos e liberdades, mas também de afirmar uma visão da vida em sociedade para mulheres e homens.

Ao celebrarmos o 50º aniversário do Conselho Português de Igrejas Cristãs falando de ecumenismo e de unidade, devo assinalar os 20 anos da Charta Oecumenica que a CEC e CCEE celebram este ano. A Charta Oecumenica é o resultado da consciência de que as Igrejas não podem clamar por uma contribuição face aos problemas sociais e societários a menos que consigam obter entendimentos e consensos entre elas próprias.

Com a Charta, as Igrejas Europeias, conscientes da necessidade de ultrapassar as suas divisões e conflitos, têm uma base sólida para fortalecimento do seu testemunho do Evangelho reforçando a credibilidade dos seus contributos éticos e em desafiar os debates na sociedade. Além disso, a Charta procura disponibilizar às Igrejas e todos os cristãos na Europa os frutos de diálogos ecuménicos e trabalho teológico para estimular a vida, a oração e a ação no movimento ecuménico.

 

Uma comunhão mais completa e visível

Christian Krieger: a Charta Oecumenica precisa de actualização, mas permanece uma fonte de inspiração e de esperança. Foto: Direitos reservados

 

Estas Orientações para Crescente Colaboração entre as Igrejas da Europa recordam-nos antes de mais que a unidade é um dom de Deus, dado em Cristo, e que na fé as Igrejas e os cristãos são chamados a descobrir e a acolher esta unidade. A Charta Oecumenica promove, assim, a via para uma comunhão das Igrejas da Europa mais completa e visível, especialmente pela evangelização, vida, ação e oração em comum. Finalmente, abre a perspectivas e compromissos das Igrejas na sua responsabilidade comum na Europa, ao nível da construção europeia, diálogo com culturas, pela salvaguarda da Criação, promoção de comunhão com o judaísmo, relações com o islão e diálogo com ideologias e movimentos filosóficos. Obviamente que a Charta precisa de actualização para melhor atender aos desafios sociais, societários, políticos e eclesiais que surgiram nestes 20 anos, mas permanece um marco efectivo no caminho da unidade, uma fonte de inspiração e de esperança.

Gostaria de concluir saudando a assinatura do Memorando de Entendimento “Projecto Eco-Igrejas de Portugal” que visa promover a ética da sustentabilidade. Cuidar da Criação é um tema central, não só para Igrejas, nem só para a CEC e CCEE, mas para toda a humanidade. A Escritura Sagrada ensina-nos que o mundo vivo não só é obra de Deus como vive numa comunidade de destino. A salvação da humanidade e a salvação da Criação são responsabilidade de todos e implicam a conversão de cada individuo. A crise pandémica que o mundo experimenta ilustra que esse é o único caminho. Desejo todo o sucesso a este projecto, e expresso o voto de que seja um sinal forte e significativo de compromisso social das Igrejas e dos cristãos, e que assim dê testemunho do amor e da esperança que nos une.

Revº Christian Krieger, presidente da Conferência das Igrejas Europeias
Lisboa, 12 Junho 2021

(Título e subtítulos da responsabilidade do 7MARGENS)

 

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