Ana Cordovil trabalhando no mural evocativo do centenário de Sophia, em Belém (Lisboa). Foto: Direitos reservados.
Faz agora quase um ano pintei no meu atelier, durante cinco semanas quase sem parar, com duas outras artistas, os poemas da Sophia escolhidos para integrarem um Memorial evocativo do centenário do seu nascimento.
Foi um tempo em que “a sombra das palavras da Sophia” dominou os meus dias. Não só pelo cuidado que queria colocar em cada gesto de pintura, mas também pela força das palavras que quase nos pertencem no modo como fazemos nossos os poemas dela.
O Memorial ficou junto ao rio Tejo, numa zona relvada na zona de Belém, junto à estação dos barcos para a Trafaria. É constituído por dois grandes arcos com alguma distância, mas com boa visibilidade. São todos revestidos a azulejos onde se leem os poemas da Sophia nos lados que ficam para fora e da parte de dentro se “lançam” pinturas da Menez, num diálogo muito feliz.

O Memorial a Sophia. Foto © Ana Cordovil.
“Tomando a tua mão na sua mão”
Esta frase retirada dos poemas da Sophia que pintei ganhou para mim um significado muito especial.
Muitas vezes, quando pinto acho que a mão e o olhar de Deus me conduzem.
De algum modo sinto que não estou sozinha. Não poderia estar.
Acho que a criação artística mesmo que olhada sem deslumbre tem em si a transcendência de algo que o artista não domina no seu ato criador.
Assim senti ao pintar as palavras da Sophia para os azulejos. Era-me pedida uma responsabilidade maior no cuidar de cada uma delas.
Há poemas da Sophia que vão encontrar neste Memorial que quase se tornaram identidade da nossa história. Outros podem ser menos conhecidos, mas ficam connosco pela força que transportam.
Que ao olhar de cada um que leia os poemas neste Memorial chegue a intensidade que colocámos na pintura e force a expressão que diferencia e dá mais cor a cada palavra.
Ana Cordovil é pintora