
Grafitti frente a igreja na Covilhã: “De que modo a cultura pop influencia a experiência de Deus?” Foto © Rui Fernandes.
Para muitas pessoas, a cultura pop tornou-se a sua língua franca, expressão de um modo de estar no mundo, com expectativas e angústias próprias. Partindo dessa verificação, o padre jesuíta Rui Fernandes e o centro cultural Brotéria propõem, entre esta quarta-feira, 15, e a próxima sexta, 17, um curso sobre “Teologia e cultura pop”. Que pretenderá responder a perguntas como: “De que modo essa cultura influencia a experiência de Deus? Até que ponto se delineia, aí, uma linguagem teológica?”
“Mais do que produtos ou eventos, o conjunto de realidades como a música, filmes, roupas, desporto, redes sociais e concertos é expressão de um novo estilo de vida”, diz o padre Rui Fernandes ao 7MARGENS, explicando a ideia do curso. Um conjunto que, nota, é variado e, por vezes, contraditório: “Há um horizonte de felicidade, uma linguagem comum, uma forma de avaliar as coisas, um conjunto de referências que ajudam à construção das identidades pessoais os quais, juntos, constituem uma ‘cultura’.”
A teologia aparece aqui porque ela se tem interessado pelas “culturas” por razões diversas, explica ainda. “Umas vezes foi a vontade de perceber de que modo o evangelho poderia chegar a contexto diferente. Outras, foi a necessidade de discutir com a cultura, tentando mostrar a lógica interna do cristianismo e desmontar eventuais caricaturas e distorções.”
Já mais ultimamente tem sido “a consciência de que a experiência espiritual das pessoas se transformou: afastou-se das instituições e procurou novas formas de realizar o desejo de crescimento pessoal, de construção de sentido e de busca de transcendência”. Para muitos, acrescenta, “a vida espiritual migrou das religiões para a cultura e, concretamente, a cultura popular”. Mas “até que ponto podemos falar de uma presença de Deus na cultura popular?”, pergunta.
É isso que Rui Fernandes propõe explorar nas três sessões do curso, cada uma com duração de uma hora e meia, sempre às 19h. A primeira, sobre “Rock’n’roll: as tradições em questão”, procurará olhar para as “interrogações sociais que conduziram à emergência da cultura pop, com as suas ambiguidades, no século XX”. Será como que “contar a história da pop: como surgiu, porquê, quais as suas características principais”. Por outro lado, serão também assinaladas “algumas das questões teológicas que conduziram às reformas do Concílio Vaticano II”, que coincidiram, em termos temporais, com o aparecimento da cultura pop. Os modos como a Igreja Católica se foi posicionando em relação ao fenómeno – receios, curiosidade, respeito – serão também abordados.
A segunda sessão, sobre “Profecia e mística na cultura pop”, procurará analisar “as interrogações existenciais da cultura pop (nomeadamente na música rock e punk) à luz das categorias de profecia e mística”. Algumas obras serão estudadas à luz das noções de “mística”, “profecia” e “crítica apofática” (ou seja, “a consciência do limite das palavras e das teorias para falar da vida, do mundo e de Deus”).
Na terceira parte, sobre “Cultura pop e revelação, Rui Fernandes fará “uma abordagem fenomenológica e hermenêutica do evento pop à luz de uma noção dinâmica e plural de revelação (divina e humana)”. Será feito um estudo de caso, tendo as parábolas como método de interpretação, explica ainda o padre Rui.
Por causa da situação pandémica, o curso decorrerá exclusivamente em canal vídeo. Todas as pessoas inscritas terão os endereços das ligações para poder ver, o que permite o acesso em diferido, mesmo a quem não esteja disponível nas datas ou horas da transmissão directa. A inscrição tem um custo de 15 euros e pode ser feita na página do centro cultural Brotéria, onde também se pode ver o programa.
O curso surge ligado à investigação que o padre Rui Fernandes, nascido em 1983, está a fazer para o doutoramento que está a preparar na Universidade Católica Portuguesa – Lisboa/Universidade de S. José – Beirute (Líbano), na área do diálogo entre cristianismo e islão, feito a partir da música.
Rui Fernandes passou pelo curso de engenharia mecânica antes de entrar no seminário, onde concluiu o curso de teologia. Em 2008, entrou na Companhia de Jesus, fazendo aí estudos de filosofia (Braga), teologia fundamental (Centre Sèvres – Facultés Jésuites de Paris) e teologia islâmica (Institut Catholique de Paris).