Denúncia do Patriarca Bartolomeu

“A teologia da guerra que vem da Rússia dividiu o mundo ortodoxo”

| 4 Set 2023

Patriarca Bartolomeu. Foto Nikos Papachristou  Ecumenical Patriarchate

O Patriarca Bartolomeu considera que, desde há quase dois anos, se vive uma tragédia no centro da Europa, não só pela degradação das relações entre as duas Igrejas ortodoxas, mas também devido ao derramamento de sangue. Foto © Nikos Papachristou/Patriarcado Ecuménico.

 

O Patriarca Ecuménico Bartolomeu, de Constantinopla, disse na última sexta-feira, dia 1, que os esforços que desenvolveu no sentido da unidade e cooperação das igrejas ortodoxas autocéfalas (independentes) “foi destruído nos últimos anos por uma nova eclesiologia, que vem do norte, e uma nova teologia, a teologia da guerra”.

Bartolomeu falava por ocasião da abertura do ano novo eclesiástico (Indicção), numa celebração a que presidiu, acompanhado pelo metropolita Epifânio “de Kiev e de toda a Ucrânia” e líder da Igreja Ortodoxa Ucraniana autocéfala.

A reflexão feita pelo patriarca sobre a nova eclesiologia e nova teologia relaciona-se precisamente com o afastamento e rutura desta Igreja relativamente ao patriarcado de Moscovo, que se começou a desenhar a partir de 2014, foi formalizado com o reconhecimento da sua autocefalia em 2019, e ganhou força com a invasão da Ucrânia por parte da Rússia.

“É esta teologia que a Igreja irmã da Rússia começou a ensinar para tentar justificar uma guerra injustificada, profana, não provocada e diabólica contra um país soberano e independente, a Ucrânia”, especificou Bartolomeu no seu discurso.

O patriarca considerou que, desde há quase dois anos, se vive uma tragédia no centro da Europa, não só pela degradação das relações entre as duas Igrejas ortodoxas, mas também devido ao derramamento de sangue. “Cento e cinquenta mil, talvez duzentos mil soldados russos foram mortos nesta guerra, cerca de cem mil soldados ucranianos e inúmeros civis. Repito que se trata de uma tragédia. Isto, evidentemente, também tem um impacto nas relações das respetivas igrejas ortodoxas irmãs”, fez notar Bartolomeu.

O líder ortodoxo referiu ter recebido convites e sugestões de várias Igrejas irmãs para que o Patriarcado Ecuménico convoque de novo uma conferência pan-ortodoxa ou uma assembleia (sinaxe) de primazes ortodoxos para “tratar da questão eclesiástica ucraniana”.

“O nosso Patriarcado – responde Bartolomeu – rejeita estas propostas porque não está disposto a submeter ao julgamento das outras Igrejas um ato canónico que ele próprio realizou”.

E explicou: “Digo ato canónico, porque a concessão da autocefalia à Igreja da Ucrânia, com os seus 44 milhões de fiéis, foi feita no quadro dos direitos e responsabilidades diaconais do Patriarcado Ecuménico”.

 

Situação de indefinição nas igrejas ortodoxas do Báltico

Uma região que tem sentido de forma saliente o impacto da invasão da Ucrânia pela Rússia é a dos estados bálticos (Lituânia, Estónia e Letónia), que fazem fronteira com a Federação Russa e integraram, até 1991, a União Soviética.

As igrejas ortodoxas locais integravam, tal como na Ucrânia, o Patriarcado de Moscovo. A eclosão da guerra na região e o receio do expansionismo da política de Putin funcionaram como fatores de pressão sobre aquelas Igrejas, no sentido de “tomarem uma posição clara contra a guerra e distanciarem-se do Patriarcado de Moscovo”, como escreve Sebastian Rimestad, do Instituto de Estudos de Religião da Universidade de Leipzig, na edição de junho último da Religion & Gesellschaft in Ost und West.

No caso da Lituânia, cinco padres ortodoxos atreveram-se a discutir, em 2022, a possível transferência do vínculo para Constantinopla, rompendo com o Patriarca Cirilo. Foi o bastante para o seu bispo os suspender. Mas o titular do Patriarcado de Constantinopla (que é primus inter pares), Bartolomeu, visitou a Lituânia logo a seguir e debateu com o governo a possibilidade de criar naquele país uma nova jurisdição eclesiástica autónoma, ligada a Constantinopla. Em paralelo, o metropolita local fez declarações a manifestar discordância com Cirilo quanto à guerra e requereu ao Patriarcado de Moscovo um estatuto de autonomia. Nada está, ainda, decidido.

Na Letónia, a iniciativa coube ao metropolita, que foi duro com a cobertura dada pelo Patriarca de Moscovo à guerra na Ucrânia e à violência militar russa. Apesar de a Igreja ortodoxa local já gozar de autonomia, foi o governo do país a declará-la autocéfala, obrigando esta a alterar os seus estatutos. O novo enquadramento normativo foi enviado ao Patriarcado de Moscovo, mas ainda não houve pronunciamento. Como observa o investigador Sebastian Rimestad, Cirilo poderia vir a considerar a autocefalia da Letónia como “uma declaração puramente política, sem consequências canónicas”.

O caso da Estónia reveste-se de algumas especificidades, uma vez que, segundo a fonte que temos vindo a seguir, a Igreja Ortodoxa está dividida desde 1996, com uma parte ligada ao Patriarcado de Moscovo e a outra ao de Constantinopla. Com a invasão russa da Ucrânia, as posições pouco claras do metropolita local têm acicatado divergências pré-existentes, representando “potencial para novas divisões”.

Em jeito de síntese, Rimestad conclui que, “embora as igrejas ortodoxas do Báltico sejam pequenas e não sejam uma voz poderosa no mundo ortodoxo, a forma como respondem pode, no entanto, ter impacto na futura reconciliação ou numa maior divisão da ortodoxia mundial”.

 

Bispos dos EUA instam Congresso a apoiar programa global de luta contra a sida

Financiamento (e vidas) em risco

Bispos dos EUA instam Congresso a apoiar programa global de luta contra a sida novidade

No momento em que se assinala o 35º Dia Mundial de Luta Contra a Sida (esta sexta-feira, 1 de dezembro), desentendimentos entre republicanos e democratas nos Estados Unidos da América ameaçam a manutenção do Plano de Emergência do Presidente para o Alívio da Sida (PEPFAR), que tem sido um dos principais financiadores do combate à propagação do VIH em países com poucos recursos. Alarmados, os bispos norte-americanos apelam aos legisladores que assegurem que este programa – que terá já salvo 25 milhões de vidas – pode continuar.

Para grandes males do Planeta, grandes remédios do Papa

Para grandes males do Planeta, grandes remédios do Papa novidade

Além das “indispensáveis decisões políticas”, o Papa propõe “uma mudança generalizada do estilo de vida irresponsável ligado ao modelo ocidental”, o que teria um impacto significativo a longo prazo. É preciso “mudar os hábitos pessoais, familiares e comunitários”. É necessário escapar a uma vida totalmente capturada pelo imaginário consumista.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

“Em cada oportunidade, estás tu”

Ajuda em Ação lança campanha para promover projetos de educação e emprego

“Em cada oportunidade, estás tu” é o mote da nova campanha de Natal da fundação Ajuda em Ação, que apela a que todos os portugueses ofereçam “de presente” uma oportunidade a quem, devido ao seu contexto de vulnerabilidade social, nunca a alcançou. Os donativos recebidos revertem para apoiar os programas de educação, empregabilidade jovem e empreendedorismo feminino da organização.

Não desviemos o olhar da “catástrofe humanitária épica” em Gaza

O apelo de Guterres

Não desviemos o olhar da “catástrofe humanitária épica” em Gaza novidade

A ajuda que as agências da ONU estão a dar aos palestinianos da Faixa de Gaza, perante aquilo que o secretário-geral considera uma “gigantesca catástrofe humanitária”, é manifestamente inadequada, porque insuficiente. A advertência chega de António Guterres, e foi proferida em plena reunião do Conselho de Segurança, que ocorreu esta quarta feira, 29, no tradicional Dia de Solidariedade com o Povo Palestiniano.

“Não deixeis que nada se perca da JMJ”, pediu o Papa aos portugueses

Em audiência no Vaticano

“Não deixeis que nada se perca da JMJ”, pediu o Papa aos portugueses novidade

O Papa não se cansa de agradecer pela Jornada Mundial da Juventude que decorreu em Lisboa no passado mês de agosto, e esta quinta-feira, 30, em que recebeu em audiência uma delegação de portugueses que estiveram envolvidos na sua organização, “obrigado” foi a palavra que mais repetiu. “Obrigado. Obrigado pelo que fizeram. Obrigado por toda esta estrutura que vocês ofereceram para que a Jornada da Juventude fosse o que foi”, afirmou. Mas também fez um apelo a todos: “não deixeis que nada se perca daquela JMJ que nasceu, cresceu, floriu e frutificou nas vossas mãos”.

O funeral da mãe do meu amigo

O funeral da mãe do meu amigo novidade

O que dizer a um amigo no enterro da sua mãe? Talvez opte por ignorar as palavras e me fique pelo abraço apertado. Ou talvez o abraço com palavras, sim, porque haveria de escolher um ou outro? Os dois. Não é possível que ainda não tenha sido descoberta a palavra certa para se dizer a um amigo no dia da morte da sua mãe. Qual será? Porque é que todas as palavras parecem estúpidas em dias de funeral? 

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This