
Jean de Bruges, um dos 47 anjos do Instrumentarium da Capela da Virgem (catedral de Mans, c. 1377).
Uma “torrente musical verdadeiramente arrasadora”, de esperança pascal, diz o padre Arlindo Magalhães, comentador musical, padre da diocese do Porto e responsável da comunidade da Serra do Pilar (Gaia), a propósito da obra de Thomas Tallis Spem in Alium (algo que se pode traduzir como “esperança para lá de todas as ameaças”).
Neste programa da TSF, emitido inicialmente na Páscoa de 2011 e reposto no último Domingo de Páscoa, no passado dia 4, fala-se desta “obra tremenda”. Arlindo Magalhães, doutorado em Teologia e com formação em música, começa por explicar quem é e em que contexto histórico e artístico viveu Thomas Tallis (1500/1520-1585), considerado como o criador da música coral inglesa de catedral, que trabalhou enquanto compositor e organista com quatro reis: Henrique VIII, Eduardo VI, Maria e Isabel I.
A par das Lamentações de Jeremias e de Laudate Dominum, o motete de 50 vozes Spem in Alium é uma das obras mais importantes de Tallis, que compôs música para as liturgias católica e anglicana. É uma obra, diz Arlindo Magalhães, que só percebe quem já foi arrastado por uma onda na praia. Mas, mesmo assim, acrescenta, não é total, nem diz tudo sobre Deus.
A obra terá sido composta à volta do ano 1570 e a multiplicação de linhas de vozes diferentes (até 40 ou 50, ao contrário das três a seis que eram normais nos motetos renascentistas) é uma das marcas de Spem in Alium. Mas não há certezas sobre o facto de ter sido Tallis ou não a escrever as pelo menos 40 vozes.
O texto foi retirado de uma missa em latim:
Spem in alium nunquam habui
Praeter in te, Deus Israel
Qui irasceris et propitius eris
et omnia peccata hominum
em tribulatione dimittis
Domine Deus
Creator caeli et terrae
respice humilitatem nostram
Uma tradução possível:
Nunca pus a minha esperança em nenhum outro
Senão em ti, ó Deus de Israel
que tanto pode mostrar raiva como misericórdia,
e que absolve todos os pecados
ao homem em tribulação.
Senhor Deus,
Criador do Céu e da Terra,
atende à nossa fragilidade.
O programa de Manuel Vilas Boas, com sonorização de João Félix Pereira, pode ser ouvido aqui, na página da TSF.