A vida aconteceu lá atrás

| 25 Fev 2023

"Tatuei quem era com medo de esquecer o que um dia seria passado sem medo". Foto © Ana Sofia Brito

“Tatuei quem era com medo de esquecer o que um dia seria passado sem medo”. Foto © Ana Sofia Brito

 

Uma vez fui muito jovem e tive cabelos “rasta”, ali eu sonhei viajar o mundo sendo artista de rua. Mas sonhei com toda a minha personalidade enfiada no sonho – impulsiva, impaciente, inconsequente. Nessa totalidade era tão fácil realizar sonhos…

Sabia, porque sempre fui muito atenta às palavras dos mais velhos, que esses traços de personalidade se iam gastando como se gastam os desenhos remotos em folhas de papel ao relento.

Foi por isso que sempre tive tanta pressa.

Tatuei quem era com medo de esquecer o que um dia seria passado sem medo.

Hoje tenho o triplo da idade desses tempos; mas olho essa menina tatuada, para a eternidade, no meu corpo; esfrego suavemente o sabão no seu rosto e, de olhos postos nos dela, vocifero:

– Não somos mais a mesma, somos outra cada uma, e és tu a mais forte, a mais sábia e verdadeira. Sinto saudade da impaciência que já não sei resgatar.

Queria de volta os caminhos longínquos, o peso da mochila, as amizades brotadas de um sufoco mútuo daquele momento, o medo da morte; que é feito dele, do medo da morte? a gente envelhece e já é um tanto faz.

O passaporte carimbado ao limite em sobreposições, vorazes e insaciáveis, passou de validade e o novo mais parece um rosto sem vida, cujas rugas se escondem em botox sem expressão, um buraco sem história para contar.

A gente envelhece e já é um tanto faz… a gente envelhece e já é um tanto faz.

No tempo da urgência a gente enfrenta o salto abismal no lago gelado, a gente surfa as ondas dos mares que não conhece e mete a vida inteira em tudo o que encara. O espírito selvagem dá prioridade a cumprir desejos, o resto é nada sem arrepio.

Tenho a tatuagem alojada na pele, qual boia de salvação a confortar os dias frustrados pela perda de sentido.

A gente envelhece e já é um tanto faz… a vida aconteceu lá atrás.

 

Ana Sofia Brito começou a trabalhar aos 16 anos em teatro e espetáculos de rua; Depois de dois anos na Universidade de Coimbra estudou teatro, teatro físico e circo em Barcelona, Lisboa e Rio de Janeiro, onde actualmente estuda Letras.

 

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