
Muro de separação erguido pelas autoridades israelitas para bloquear a Cisjordânia, em Belém. Foto © Albin Hillert/WCC.
Os líderes religiosos cristãos são unânimes ao condenar o ataque israelita dos últimos dias na Cisjordânia e exigir o fim de toda a violência na região. Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, adverte que haverá muito mais vítimas se o direito à autodeterminação e independência não for assegurado. “A violência não resolve, é preciso liberdade para o povo palestiniano”, defende.
“Mais uma vez, não é a primeira e infelizmente temo que não seja a última, estamos a testemunhar uma operação militar na área norte da Samaria, no campo de refugiados de Jenin, com a intenção de atingir várias células da resistência palestiniana”, diz o patriarca latino de Jerusalém ao Vatican News sobre a operação militar israelita levada a cabo esta segunda e terça-feiras, que obrigou à evacuação de cerca de 3 mil pessoas do campo de refugiados da cidade, onde vivem cerca de 18 mil.
Os ataques, aéreos e terrestres, deixaram Jenin em ruínas. De acordo com as autoridades palestinianas, 13 pessoas morreram nos confrontos e mais de 140 ficaram feridas. Trata-se da maior ofensiva na região desde o início do século, que, em nota divulgada esta terça-feira, foi qualificada pelo Patriarcado Latino de Jerusalém, como uma agressão “sem precedentes”, com “atos bárbaros” e “crimes injustificados”. Uma agressão que – acrescenta o comunicado – atingiu a igreja local.
Também o Patriarcado de Jerusalém (da Igreja Ortodoxa) emitiu já um comunicado, apelando à comunidade internacional que tome “medidas urgentes para evitar mais perdas humanas e sofrimento”. “O mundo está a testemunhar silenciosamente a violação contínua dos direitos humanos”, sublinha a declaração publicada no sítio oficial do patriarcado. “Uma solução justa para a causa palestiniana não é apenas uma necessidade humanitária, mas também uma necessidade política e moral. A continuação da violência leva a mais tensão e divisão na região e expõe a vida de milhares de pessoas inocentes ao perigo e ao sofrimento”, diz o texto.
As forças de Israel retiraram-se do local na madrugada desta quarta-feira e dizem ter cumprido a sua missão “com menos resistência ou complicações menores do que a inteligência havia previsto”. Mas o padre Labib Deibes, pároco em Jenin, tem uma perspetiva diferente. “Nestes dias, as negociações entre os dois lados são quase inexistentes”, conta à Rádio Vaticana. “Nas últimas 24 horas, vivemos momentos difíceis, algo muito semelhante a uma guerra: explosões, aviões, tanques, tudo contra o povo palestiniano, ou seja, contra alguns jovens que têm o direito de defender a sua terra. Neste momento é tempo de ajudar todos os que foram afetados pelos ataques, mas para o padre católico, é essencial “que o povo palestiniano recupere todos os seus direitos e viva em paz na sua terra”. “Queremos ajudar os habitantes de Jenin, primeiro com dinheiro para reparar a destruição que ocorreu e, depois, fazendo todo o possível para que o povo palestiniano recupere todos os seus direitos. Depois de recuperá-los, não precisaremos mais de ajuda externa e poderemos viver felizes e livres”, conclui.
Situação humanitária “exacerbada”, Cáritas e MSF com ação limitada

“Depois de numerosos ataques inúteis no passado, este ataque militar serve apenas para exacerbar a situação humanitária”, afirma por seu lado Jerry Pillay, secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).
Numa nota divulgada já esta quarta-feira, Pillay assinala que “as igrejas ortodoxa e latina em Jenin abriram as suas portas para alguns refugiados dos 3.000 que fugiram do campo, mas o CMI está preocupado porque as necessidades humanitárias de toda a população do campo de 18.000 pessoas, que precisam de ser atendidas com urgência”.
A Cáritas Jerusalém, que está ativamente envolvida em vários programas na província de Jenin, manifestou “profunda preocupação” com o ataque de Israel na Cisjordânia, tendo sido obrigada a suspender “muitas das atividades na área”. “Pedimos aos nossos amigos e parceiros que orem pela paz e segurança da nossa equipa e das pessoas em Jenin. e no resto da Cisjordânia”, escreveu a instituição em comunicado, citado pelo jornal La Croix International.
A organização médica humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF), que tem estado a prestar cuidados de saúde de emergência na cidade de Jenin, pediu que estruturas médicas, ambulâncias e pacientes fossem respeitados e os profissionais de saúde tivessem acesso desimpedido, o que não aconteceu.
“Escavadoras militares destruíram várias estradas que levam ao campo de refugiados de Jenin, tornando quase impossível para as ambulâncias chegarem aos pacientes”, denuncia a MSF. “Além disso, paramédicos palestinianos foram forçados a prosseguir a pé para alcançar pessoas que precisam de tratamento médico desesperado numa área com tiroteio ativo e ataques de drones. Todas as estradas que levam ao campo de refugiados em Jenin também foram bloqueadas durante a operação militar, apesar da presença de pacientes que precisam de cuidados dentro do campo de refugiados”, pode ler-se no comunicado daquela organização.
A organização denuncia ainda que, esta terça-feira, “as forças israelitas dispararam gás lacrimogéneo dentro do hospital Khalil Suleiman em Jenin”, o que impediu o funcionamento das urgências e de algumas outras áreas do hospital, que ficaram “cheias de fumo”.
BREAKING from Jenin:
Israeli forces fired tear gas several times inside the Khalil Suleiman hospital.
This is unacceptable.
The emergency room is not usable right now, it's completely filled with smoke, as is the rest of the hospital…
— Doctors w/o Borders (@MSF_USA) July 4, 2023
“Os ataques em Jenin estão a tornar-se cada vez mais frequentes e a sua intensidade parece atingir novos patamares”, alerta a coordenadora de operações dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na cidade da Cisjordânia ocupada, Jovana Arsenijevic. “É absolutamente ultrajante”, conclui.