Igrejas cristãs unânimes na condenação

“A violência não resolve, é preciso liberdade para o povo palestiniano”, defende patriarca latino de Jerusalém

| 5 Jul 2023

Belém, muro de separação erguido pelas autoridades israelitas para bloquear a Cisjordânia. Foto ©  Albin HillertWCC.

Muro de separação erguido pelas autoridades israelitas para bloquear a Cisjordânia, em Belém. Foto © Albin Hillert/WCC.

 

Os líderes religiosos cristãos são unânimes ao condenar o ataque israelita dos últimos dias na Cisjordânia e exigir o fim de toda a violência na região. Pierbattista Pizzaballa, patriarca latino de Jerusalém, adverte que haverá muito mais vítimas se o direito à autodeterminação e independência não for assegurado. “A violência não resolve, é preciso liberdade para o povo palestiniano”, defende.

“Mais uma vez, não é a primeira e infelizmente temo que não seja a última, estamos a testemunhar uma operação militar na área norte da Samaria, no campo de refugiados de Jenin, com a intenção de atingir várias células da resistência palestiniana”, diz o patriarca latino de Jerusalém ao Vatican News sobre a operação militar israelita levada a cabo esta segunda e terça-feiras, que obrigou à evacuação de cerca de 3 mil pessoas do campo de refugiados da cidade, onde vivem cerca de 18 mil.

Os ataques, aéreos e terrestres, deixaram Jenin em ruínas. De acordo com as autoridades palestinianas, 13 pessoas morreram nos confrontos e mais de 140 ficaram feridas. Trata-se da maior ofensiva na região desde o início do século, que, em nota divulgada esta terça-feira, foi qualificada pelo Patriarcado Latino de Jerusalém, como uma agressão “sem precedentes”, com “atos bárbaros” e “crimes injustificados”. Uma agressão que – acrescenta o comunicado – atingiu a igreja local.

Também o Patriarcado de Jerusalém (da Igreja Ortodoxa) emitiu já um comunicado, apelando à comunidade internacional que tome “medidas urgentes para evitar mais perdas humanas e sofrimento”. “O mundo está a testemunhar silenciosamente a violação contínua dos direitos humanos”, sublinha a declaração publicada no sítio oficial do patriarcado. “Uma solução justa para a causa palestiniana não é apenas uma necessidade humanitária, mas também uma necessidade política e moral. A continuação da violência leva a mais tensão e divisão na região e expõe a vida de milhares de pessoas inocentes ao perigo e ao sofrimento”, diz o texto.

As forças de Israel retiraram-se do local na madrugada desta quarta-feira e dizem ter cumprido a sua missão “com menos resistência ou complicações menores do que a inteligência havia previsto”. Mas o padre Labib Deibes, pároco em Jenin, tem uma perspetiva diferente. “Nestes dias, as negociações entre os dois lados são quase inexistentes”, conta à Rádio Vaticana. “Nas últimas 24 horas, vivemos momentos difíceis, algo muito semelhante a uma guerra: explosões, aviões, tanques, tudo contra o povo palestiniano, ou seja, contra alguns jovens que têm o direito de defender a sua terra. Neste momento é tempo de ajudar todos os que foram afetados pelos ataques, mas para o padre católico, é essencial “que o povo palestiniano recupere todos os seus direitos e viva em paz na sua terra”. “Queremos ajudar os habitantes de Jenin, primeiro com dinheiro para reparar a destruição que ocorreu e, depois, fazendo todo o possível para que o povo palestiniano recupere todos os seus direitos. Depois de recuperá-los, não precisaremos mais de ajuda externa e poderemos viver felizes e livres”, conclui.

 

Situação humanitária “exacerbada”, Cáritas e MSF com ação limitada

Equipa dos Médicos Sem Fronteiras em ação nos territórios palestinianos, 2023. Foto © MSF

Paramédicos palestinianos foram forçados a prosseguir a pé para alcançar pessoas que precisam de tratamento médico desesperado numa área com tiroteio ativo e ataques de drones, denunciou a organização Médicos Sem Fronteiras. Foto © MSF.

 

“Depois de numerosos ataques inúteis no passado, este ataque militar serve apenas para exacerbar a situação humanitária”, afirma por seu lado Jerry Pillay, secretário geral do Conselho Mundial de Igrejas (CMI).

Numa nota divulgada já esta quarta-feira, Pillay assinala que “as igrejas ortodoxa e latina em Jenin abriram as suas portas para alguns refugiados dos 3.000 que fugiram do campo, mas o CMI está preocupado porque as necessidades humanitárias de toda a população do campo de 18.000 pessoas, que precisam de ser atendidas com urgência”.

A Cáritas Jerusalém, que está ativamente envolvida em vários programas na província de Jenin, manifestou “profunda preocupação” com o ataque de Israel na Cisjordânia, tendo sido obrigada a suspender “muitas das atividades na área”. “Pedimos aos nossos amigos e parceiros que orem pela paz e segurança da nossa equipa e das pessoas em Jenin. e no resto da Cisjordânia”, escreveu a instituição em comunicado, citado pelo jornal La Croix International.

A organização médica humanitária internacional  Médicos Sem Fronteiras (MSF), que tem estado a prestar cuidados de saúde de emergência na cidade de Jenin, pediu que estruturas médicas, ambulâncias e pacientes fossem respeitados e os profissionais de saúde tivessem acesso desimpedido, o que não aconteceu.

“Escavadoras militares destruíram várias estradas que levam ao campo de refugiados de Jenin, tornando quase impossível para as ambulâncias chegarem aos pacientes”, denuncia a MSF. “Além disso, paramédicos palestinianos foram forçados a prosseguir a pé para alcançar pessoas que precisam de tratamento médico desesperado numa área com tiroteio ativo e ataques de drones. Todas as estradas que levam ao campo de refugiados em Jenin também foram bloqueadas durante a operação militar, apesar da presença de pacientes que precisam de cuidados dentro do campo de refugiados”, pode ler-se no comunicado daquela organização.

A organização denuncia ainda que, esta terça-feira, “as forças israelitas dispararam gás lacrimogéneo dentro do hospital Khalil Suleiman em Jenin”, o que impediu o funcionamento das urgências e de algumas outras áreas do hospital, que ficaram “cheias de fumo”.

“Os ataques em Jenin estão a tornar-se cada vez mais frequentes e a sua intensidade parece atingir novos patamares”, alerta a coordenadora de operações dos Médicos Sem Fronteiras (MSF) na cidade da Cisjordânia ocupada, Jovana Arsenijevic. “É absolutamente ultrajante”, conclui.

 

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