A visita do Papa ao Iraque com repercussão mundial na imprensa

| 9 Mar 2021

Uma das práticas muito apreciadas no jornalismo consiste em etiquetar como histórico um acontecimento. Por isso se multiplicam os títulos a sinalizar que se fez história com um jogo de futebol, com a abertura de uma loja ou com um rearranjo urbanístico. “Histórico” é um adjectivo que empolga.

Mas estabelecer antecipadamente o que o futuro recordará é uma ilusão que depressa se desfaz. A abundância de títulos em jornais antigos relativos a ocorrências consideradas históricas que já ninguém recorda mostra a futilidade do exercício. E, no entanto, há ocasiões – escassas – em que é muito nítida a excepcionalidade e, portanto, a fortíssima convicção da perdurabilidade do que se testemunha.

A visita do Papa Francisco ao Iraque é um desses raros acontecimentos que subsistirá memorável – desde logo por ser a primeira de um Papa à Terra de Abraão, mas também por outras razões, particularmente pelo encontro com o ayatollah Ali al-Sistani, a mais alta autoridade religiosa xiita do Iraque. De resto, em homenagem à passagem do Papa pelo país, o primeiro-ministro iraquiano anunciou que a 6 de Março se passará a comemorar o Dia Nacional da Tolerância e Coexistência. Bem se compreende, portanto, que a imprensa internacional tenha qualificado como histórica a jornada iraquiana de Francisco.

O Papa Francisco inicia uma histórica visita ao Iraque”, afirmava, no sábado, num título da primeira página, o diário britânico The Independent. Noutro continente, o nicaraguense La Prensa exibia um título idêntico: “Francisco em histórica visita ao Iraque”. Noutra zona do planeta, o Khaleej Times, dos Emiratos Árabes Unidos, ou o Arab News, da Arábia Saudita, também adjectivavam a visita do mesmo modo. O principal título da primeira página do francês Le Monde era semelhante, ainda que acrescentando uma classificação: “O Papa Francisco no Iraque, uma viagem histórica e muito política”. Apesar de a constatação ser amplamente partilhada, não faltam os distraídos. Uns mais do que outros (no Telejornal de sexta-feira, sábado e domingo, apresentados por José Rodrigues dos Santos, dirigidos informativamente por António José Teixeira, a visita papal mereceu tardia e reduzida atenção).

Em vez de qualificar, diversos jornais preferiram sintetizar em títulos da primeira página os apelos de Francisco: “Que se calem as armas”, referia o uruguaio El Pais. “Tornem-se artesãos da paz”, dizia o italiano La Stampa. “O Papa em Bagdad: Chega de violência”, titulava o alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.

A peregrinação de Francisco teve eco planetário, com significativas referências nas primeiras páginas de jornais diários como Arab News, da Arábia Saudita; Oslobodjenje, da Bósnia-Herzegovina; O Estado de S. Paulo, do Brasil; The New York Times ou The Washington Post, dos Estados Unidos da América; The Asahi Shimbun, do Japão; La Prensa, da Nicarágua, para exemplificar com diversidade geográfica. De entre os diários portugueses de difusão nacional, o Jornal de Notícias distinguiu-se por nunca ter referido a visita na primeira página, para além de lhe ter concedido modesto e descuidado relevo noticioso nas páginas interiores.

A iniciativa do Papa foi olhada com entusiasmo em editoriais de diversos jornais. O espanhol El País considerou, no domingo, dia 7, que “a visita de Francisco ao Iraque é acertada por três razões: representa um apoio rotundo ao quadro institucional de um país charneira para a estabilidade do Oriente Médio que vive uma situação interna complicada desde a devastadora invasão dos Estados Unidos da América em 2003; constrói pontes importantes com o ramo do islamismo xiita e apela à defesa das minorias, neste caso uma das comunidades cristãs mais antigas do mundo, dizimada nos últimos anos e vítima de violentas perseguições, sobretudo por parte do Estado Islâmico”.

Antes, na sexta-feira, dia 5, Dov Alfon, director do diário francês Libération, escreveu que “importa sublinhar o carácter corajoso da visita do Papa Francisco”. O jornalista enumerou a relevância dos desafios que representam os passos de Francisco e a ida, no final da estadia iraquiana, à planície de Nínive para encontrar as comunidades cristãs que fugiram dos abusos cometidos pelo grupo Estado Islâmico oferece a Dov Alfon a oportunidade para uma conclusão assaz apropriada: “Na tradição bíblica, é aqui que, para sua grande surpresa, Jonas escapou da baleia para convencer todos os habitantes a arrependerem-se. É difícil fazer melhor, mas este Papa nunca escolheu a facilidade”.

(clicar nas setas para ver as capas)
ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio

Prevista pena de morte

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio novidade

Uma nova legislação aprovada pelo Parlamento ugandês esta semana prevê penas de até 20 anos de prisão para quem apoie “atividades homossexuais” e pena de morte caso haja abusos de crianças ou pessoas vulneráveis associados à homossexualidade. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, já pediu ao presidente do país africano que não promulgue esta “nova lei draconiana”, mas os bispos do país, católicos e anglicanos, permanecem em silêncio.

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores

Após reunião com Comissão Independente

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores novidade

O Corpo Nacional de Escutas (CNE) suspendeu preventivamente um elemento suspeito da prática de abusos sexuais de menores, depois de ter recebido da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica a informação de sete situações de alegados abusos que não eram do conhecimento da organização. Em comunicado divulgado esta sexta-feira, 24 de março, o CNE adianta que “está atualmente a decorrer o processo interno de averiguação, para decisão em sede de processo disciplinar e outras medidas consideradas pertinentes”.

Apoie o 7MARGENS e desconte o seu donativo no IRS ou no IRC

Breves

 

Em Lisboa

Servas de N. Sra. de Fátima dinamizam “Conversas JMJ” novidade

O Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, ligado á congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, acolhe na próxima quinta-feira, 30 de março, a primeira de três sessões do ciclo de “Conversas JMJ”. Esta primeira conversa, que decorrerá na Casa de São Mamede, em Lisboa, pelas 21h30, tem como título “Maria – mulheres de hoje” e será dedicada ao papel da mulher na sociedade atual.

Além da montanha… existe um arco-íris

Além da montanha… existe um arco-íris novidade

Vi o livro no balcão do espaço de atendimento, no seminário dos Dehonianos, em Alfragide. A capa chamou-me a atenção. Peguei nele, folheei aleatoriamente e comecei a ler algumas frases. Despertou-me curiosidade, depois atenção e logo após interesse. (Opinião de Rui Madeira).

Agenda

Fale connosco

Autores

 

Pin It on Pinterest

Share This