
“Os médicos de família carecem de recursos e de formação específica nesta área”, afirma a Associação de Médicos Católicos Portugueses. Foto © Mart Production, via Pexels.
A Associação de Médicos Católicos Portugueses (AMCP) opõe-se “firmemente” à realização de consultas de Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) nos centros de saúde, conforme proposto pelo ministro da Saúde, Manuel Pizarro, na semana passada. “A solução proposta gera legítimas preocupações de saúde pública, (…) é imprudente e põe em risco a saúde da mulher”, afirma a associação em comunicado enviado ao 7MARGENS.
“As consultas de IVG não envolvem apenas a prescrição indiscriminada de medicação para abortar. Implicam a realização prévia de uma consulta com datação ecográfica da gravidez e uma ecografia de controlo após ter sido efetuada a medicação”, lembra a AMCP, acrescentando: Adicionalmente, as complicações que podem ocorrer no decurso de uma IVG medicamentosa requerem na maioria das vezes, cuidados que só podem ser prestados por médicos especialistas em Ginecologia-Obstetrícia”.
O comunicado destaca ainda que “os médicos de família carecem de recursos e de formação específica nesta área”, e que “o próprio presidente da Associação de Medicina Geral e Familiar, Nuno Jacinto, alertou numa entrevista à Renascença que os médicos de família não estão tecnicamente preparados, nem é da sua competência, garantir consultas de IVG nos centros de saúde”.
Para os médicos católicos, “as declarações do Senhor Ministro da Saúde são ainda mais incompreensíveis tendo em conta que a abordagem terapêutica de situações como o aborto espontâneo retido é idêntica à utilizada para a IVG, mas não se discute a possibilidade da realização deste primeiro procedimento por parte dos médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar”.
Referindo- se a um estudo publicado recentemente pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre o “Acesso à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) no Serviço Nacional de Saúde”, a AMCP lamenta que o número de abortos permaneça elevado (15.616 em 2022) e que os abortos realizados nas 10 primeiras semanas de vida tenham registado um aumento de 15% face ao ano anterior. A associação destaca ainda que o estudo “assinala já um ‘indício do não cumprimento do período de reflexão'”.
Assim, concluem os médicos católicos, “talvez este seja um momento oportuno para parar e questionar por que motivo serão a esmagadora maioria dos médicos especialistas em Ginecologia-Obstetrícia objetores de consciência”. E deixam uma pergunta: “Não será de antecipar um cenário alinhado com as questões éticas relacionadas com a legalização do aborto semelhante nos médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar?”.