Arte sacra de vitrais nos Açores

Abraços de luz em S. Miguel

| 16 Abr 2022

A iniciativa do padre Hélio Soares e a arte de Dina Figueiredo deram corpo à beleza. Uma conversa com a artista permitiu olhar e entender as obras de arte de forma mais profunda. 

O divino é luz. Eis-nos em S. Miguel, Açores, para saborear um projeto que não nasceu do acaso. O padre Hélio Soares é pároco e sente a evangelização como a visão a partir de uma ilha com a imensidade do mar em 360 graus.

Diante “da consciência da importância da arte como evangelização e a vontade de valorizar espaços litúrgicos”, explicou o padre Hélio, “juntou-se a vontade e a oportunidade” com muitos diálogos que deram substância a uma obra.

É que o Deus da Boa Nova é um Deus que se encarnou na nossa humanidade, de que a arte é parte integrante.

Para o padre Hélio, “a arte, à semelhança dos demais instrumentos de evangelização na Igreja, desempenha uma função própria, que se torna original quando permite a experiência do encontro, onde Deus se comunica”, tornando-se “mediadora entre o crente e Deus”.

Foi neste contexto que nas paróquias de Nossa Senhora da Apresentação de Capelas e Nossa Senhora da Luz, na ouvidoria [vigararia] de Capelas, nasceu o projeto de criação e execução de cinco vitrais, num diálogo que envolveu os conselhos pastorais e dos assuntos económicos, juntas de freguesia, Cooperativa Agrocapelense e a artista plástica Dina Figueiredo, um verdadeiro projeto “da comunidade para a comunidade” como referiu o pároco.

Assim como os vitrais têm um lado de fora e um lado de dentro, entremos respeitosamente na parte de dentro, na sua criação. Não estando alheia às reais dificuldades destes tempos pandémicos, para Dina Figueiredo sobressaía, como um refrão, uma frase de Paulo VI: “A Igreja permanece no meio das tempestades da História”.

A Igreja permanece, na medida em que o seu anúncio do Evangelho é reflexo divino do Amor de Deus, apesar das provações.

É ousado pensar investir na arte neste período?

“Paulo VI, na sua mensagem aos artistas na conclusão do Concílio Vaticano II disse que ‘o mundo em que vivemos tem necessidade de beleza para não cair no desespero. A beleza, como a verdade, é a que traz alegria ao coração dos homens’”, respondeu a artista com o brilho no olhar a sublinhar estas palavras. E prosseguiu: “A beleza traz consigo a exuberância, como são exuberantes todos estes lugares da ilha ricos de beleza, de encanto, de exultação contínua, e estes vitrais desejam contribuir, com a sua luz e cor, para criar uma aura mística nos vários espaços arquitetónicos, para dialogar com a liturgia e a arquitetura, para transformar o espaço numa esfera luminosa, semelhante à luz divina.”

Mas vamos ao trabalho. Foi tudo elaborado pelo conceituado ateliê Tocchi di Colore, com sede em Itália, sob a supervisão direta da artista.

Para a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Luz, foram realizados dois vitrais: um na nave direita, por cima da capela do Santíssimo; o outro na nave esquerda, sobre o altar de Nossa Senhora. Dina Figueiredo explica que “a luminosidade e colorido destes vitrais confere a estes espaços uma ambiência de beleza quase sobrenatural, uma sensação de continuidade e harmonia entre a talha dos altares e os painéis decorativos do teto.”

 

Vibrar com a mudança da luz

Os vitrais são feitos inteiramente com vidros soprados que vibram com as mudanças de luz “expressando o sublime que chega através da Eucaristia e do Amor materno de Maria”.

No vitral da Capela do Santíssimo estão representados – num dinamismo rico de luz, linhas e cores – os símbolos da Eucaristia, o milagre do pão e dos peixes; “as cores da moldura, dos azuis aos verdes, simbolizam a terra e o mar, das trevas à luz”.

O vitral colocado sobre o altar de Nossa Senhora tem as letras A e M, monogramas e súplica de Ave Maria, encimadas por 12 estrelas de Maria Rainha: “E viu-se um grande sinal no céu: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos seus pés, e sobre a cabeça uma coroa de 12 estrelas” (Apocalipse 12, 1). “O azul e o amarelo exprimem Maria, vestida de sol, como um grande Céu azul que contém em si todo o universo”, palavras que a artista esculpe em ambiência sobrenatural.

Diante do nosso espanto e encanto, explicou que “as cores da ‘moldura’ evocam as várias fases da vida de Maria: o roxo simboliza a desolação, a dor; o verde e o azul simbolizam a esperança que Maria depõe nos nossos corações”.

Para a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Apresentação foi pedido um vitral para o batistério e “pensou-se no Espírito Santo, em forma de pomba e de línguas de fogo, num dinamismo que vem do alto, com linhas a exprimir a Graça de Deus que nos guia”.

Na parte inferior a água do mar, mas também “um rio de água viva, resplendente como cristal” (Ap. 22, 1). A água, vida divina, fonte do Espírito, assume e embebe de vida a história de cada batizado.

Dina Figueiredo captou o ambiente e o povo porque “o mar, a terra fértil, as rochas vulcânicas e o barco são aspetos fortes que exprimem a vivência do ilhéu e, simultaneamente, a força, a beleza e a fidelidade amorosa de Deus pelo seu povo”.

Para a Igreja de Nossa Senhora da Conceição das Capelas, dois vitrais de dimensões superiores aos outros, com as temáticas do Batismo e da Eucaristia.

O vitral alusivo ao Batismo, num dinamismo de linhas e cores, “confere à composição uma tensão forte de luz que jorra do alto e penetra o rio de água viva, sinal do novo nascimento do neófito pela água e pelo Espírito”.

Quanto ao vitral da Eucaristia, ele ilustra a dádiva de Jesus que se deu em alimento. “As uvas, a espiga e o cálice, em cores luminosas, contrastam com as trevas, azuis e violeta”.

À sensibilidade da artista plástica não escapa a dor, pois “a Hóstia encontra-se partida, simbolizando a dor de tantos cristãos que não podem receber Jesus Eucaristia (também durante este período pandémico) e no silêncio do sacramento, exprime a dor da humanidade”.

Este trabalho pode, assim, trazer uma maior elevação sobrenatural a todas as celebrações nestas igrejas para um maior bem espiritual da comunidade cristã. É que a “casa” da comunidade cristã deve ser uma casa acolhedora e linda porque é também, e primeiramente, “casa de Deus”, onde todos se devem sentir bem, sentir em casa.

 

José Maia é professor do ensino secundário e integra o Movimento dos Focolares.

 

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