
Pedro Abrunhosa no encontro do Papa Francisco com os artistas, na Capela Sistina (Vaticano), 23 Junho 2023. Foto © Vatican Media
“Agnóstico me confesso, mas acredito convictamente neste Papa, no seu papel reformista que, estou certo, deixará marca indelével e fará da instituição católica uma nova igreja abrangente e inclusiva. Porque ao invés de tentar levar os homens a Deus, Francisco traz Deus aos Homens.”
A afirmação é do músico e compositor Pedro Abrunhosa e foi publicada nas suas contas do Instagram e do Facebook, nesta sexta-feira, 23, depois do encontro de cerca de 200 artistas de todo o mundo com o Papa Francisco. “Uma marcante cerimónia que decorreu no local mais emblemático para a Arte e Cultura Ocidentais: a Capela Sistina”, diz Abrunhosa.
O músico descreve: “Com uma força anímica ímpar, saído de uma recente intervenção cirúrgica, o Papa trouxe palavras surpreendentes aos Artistas ali presentes: a Arte deve ser inconveniente, irónica, interventiva.”
Resumindo o discurso do Papa, de que o 7MARGENS deu conta, Pedro Abrunhosa sentiu-se a convergir com o Papa na “visão da espiritualidade sublime do acto criativo”. E afirma: “A Arte, como o Amor, salva-nos da escura noite da guerra, do ódio, da intolerância. Num comovente discurso de meia hora, o Papa Francisco disse o que poucos responsáveis políticos toleram: o papel fundamental da Cultura, da Arte, do Sonho, na construção de uma comunidade integra, longe dos vícios da corrupção e da simonia.”
Papa quer artistas a serem “intérpretes do grito silencioso” dos pobres
O autor de Se Eu Fosse Um Dia o Teu Olhar refere que Francisco “citou Hannah Arendt e Simone Weil, duas mulheres não-católicas e figuras cimeiras do pensamento filosófico contemporâneo” – Simone Weil, oriunda de uma família judia não-praticante aproximou-se de facto do catolicismo, mas nunca quis ser baptizada. “Para Francisco, o Artista é um ‘pouco profeta’, ‘um visionário’, um homem que ‘vê e que sonha’, que, pelo acto criativo, revela ‘coisas novas ao mundo’”, escreve Abrunhosa. E acrescenta o músico que esse é também, para ele, “o papel maior de cada” uma das pessoas “que se ergue pela Arte: fazer o novo, romper mas também elevar e, sobretudo, fazer transcender”.
“A Arte é um lugar especial, também para o Papa, um feito que nos liberta da vileza do banal, do egoísmo, da fúria do consumismo, porque a Arte, ímpeto do espírito, é vida para além do resultado, da substância, do sucesso, da vaidade”, escreve ainda Abrunhosa, para quem “o Artista deve confrontar o poder e acudir aos mais fracos, aos pobres, não se fazendo hipérbole de si próprio, usando o real para transformar o real”.
Além de Pedro Abrunhosa, estiveram no encontro outros seis artistas portugueses: Rui Chafes, Vhils e Joana Vasconcelos (artistas plásticos), Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto (escritores) e Marta Braga Rodrigues (arquitecta). Participaram também o músico angolano Paulo Flores, os artistas plásticos Pedro A.H. Paixão (de Angola) e Vik Muniz (do Brasil), e ainda o indo-britânico Anish Kapoor, bem como o pianista italiano Ludovico Einaudi, o realizador norte-americano Abel Ferrara ou o escritor espanhol Javier Cercas.