“Uma Igreja onde todos se possam acolher”

Abusos sexuais: centenas de católicos apontam tarefas aos bispos

| 1 Mar 2023

Conferência Episcopal Portuguesa

Bispos reunidos em Fátima: para esta sexta-feira, católicos portugueses pedem medidas imediatas e outras a curto prazo. Foto © Agência Ecclesia/PR

 

Criar de imediato modos de viabilizar apoio e ajuda psicológica, psiquiátrica e espiritual às vítimas de abusos sexuais que o pretendam; instituir um momento solene e coletivo para pedir-lhes perdão; e criar uma nova comissão independente que prossiga o trabalho da anterior, recebendo denúncias e acompanhando casos – são estas algumas das medidas que mais de duas centenas de instituições e pessoas católicas propõem que os bispos portugueses adotem, na assembleia extraordinária que nesta sexta-feira, 3 de março, realizam em Fátima.

A reunião destina-se a refletir sobre o relatório do estudo sobre abusos sexuais de crianças na Igreja Católica que a Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais na Igreja Católica em Portugal instituída por iniciativa dos próprios bispos há pouco mais de um ano apresentou publicamente em 13 de fevereiro último.

A missiva, enviada nesta quarta-feira, 1 de março, aos bispos portugueses, e à qual o 7MARGENS teve acesso, intitula-se “Carta aos bispos da Igreja em Portugal, sobre as mudanças que todos necessitamos de fazer”. Parte do pressuposto de que a crise “tremenda” que a Igreja vive é de todos os que a ela pertencem, que podem acompanhar os bispos, ajudando-os a refletir o caminho a seguir.

Muitos dos subscritores são os mesmos que, em novembro de 2021, se dirigiram aos responsáveis da Conferência Episcopal incentivando-os a criar uma comissão nacional independente para estudar o problema dos abusos de crianças no seio da Igreja. São cristãos de movimentos como o Graal, Nós Somos Igreja, Ação Católica dos Meios Sociais Independente, Metanoia-Movimento Católico de Profissionais, Comunidade da Capela do Rato (Foco ecológico) ou Grupo Sinodal Nós entre Nós, mas também catequistas, responsáveis de serviços paroquiais, membros de comunidades locais. Profissionalmente predominam profissões como professores, médicos, quadros superiores da administração pública, profissionais da ação social, investigadores… Se se contar o total de membros das organizações signatárias e dos subscritores individuais, são algumas centenas as pessoas envolvidas.

A carta aos bispos sugere medidas imediatas, a adotar nos próximos 30 dias, como as referidas acima, e outras a adotar ao longo dos próximos dois meses. Entre estas, os autores da iniciativa propõem que a atual rede de comissões diocesanas relativas aos abusos se recentrem na prevenção primária e na formação; que os bispos encobridores, a existirem, se retirem de funções; e que se tomem medidas relativamente a “todos os abusadores que estejam atualmente ao serviço da Igreja” (“suspensão com carácter preventivo sempre que haja indícios minimamente credíveis sobre abusos e, quando considerados culpados à luz da moral cristã, independentemente de eventual processo judicial, sejam dispensados de funções e, no caso de clérigos, passando ao estado laical”).

Num horizonte de seis meses, os bispos portugueses são ainda convidados a: promover e incentivar o acesso e estudo do relatório da CI e suas conclusões entre os agentes de pastoral, “prevenindo a tentação negacionista ou de relativização do fenómeno criminal”; elaborar “um manual de boas práticas que ajude os agentes pastorais a prevenir situações de risco e a identificar indícios de casos de abusos, bem como a acolher e encaminhar vítimas”; encetar “uma reflexão de fundo sobre o impacto negativo que a perceção distorcida sobre a sexualidade humana tem vindo a causar em toda a Igreja, com a ajuda de especialistas externos”; proporcionar “um acompanhamento aos abusadores que necessariamente inclua tratamento psiquiátrico e psicológico”.

“Este é o tempo! Este é o tempo de uma tristeza imensa e – como não dizê-lo? – de uma enorme revolta contra os abusos praticados e contra o seu encobrimento. Este é o tempo que nenhum de nós desejava, mas a que não podemos fugir”, refere a carta aos bispos.

“Como Igreja – conclui a missiva – temos agora dois caminhos possíveis: denegar e iludir, insistir no rumo que nos trouxe a esta aflição permanente de caminhar para a auto-destruição e ferir pessoas; ou avançar, com oração e com coragem para mudar e reformar, com espírito humilde e destemido. Não temos dúvidas sobre onde, mais facilmente, encontraremos Jesus Cristo”.

 

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