Várias comunidades da Convenção Batista do Sul (SBC, no acrónimo em língua inglesa), o segundo maior grupo religioso dos EUA e a mais importante denominação protestante do país, estão a ser investigadas pelo Departamento de Justiça sobre a prática de abusos sexuais e o seu encobrimento por parte de responsáveis, noticiou o Washington Post de dia 12 de agosto.
“Individual e coletivamente, cada entidade da SBC está decidida a cooperar total e completamente com a investigação” conduzida pelo FBI, lê-se no comunicado divulgado na sexta-feira, dia 12 de agosto, por 14 líderes da Convenção. A decisão do Departamento de Justiça prende-se com o relatório encomendado pela SBC a uma comissão independente e divulgado a 22 de maio deste ano. Nele se concluía terem alguns membros do comité executivo da Convenção sido autores, ou coniventes, de abusos sexuais e terem ignorado, desacreditado e “até vilipendiado” muitos dos sobreviventes de abusos sexuais. Uma das conclusões mais dramáticas do estudo apontava para o facto de aqueles líderes se recusarem a divulgar um banco de dados secreto com a lista de clérigos abusadores.
A lista com mais de 700 casos acabou por ser publicada na sequência do impacte do relatório de 300 páginas que analisou as ações do comité executivo no período de 2000 a 2021. Vários líderes visados, incluindo alguns dos mais populares nos EUA, tiveram de pedir a demissão. O comité executivo, com sede em Nashville, trata das funções financeiras e administrativas e distribui mais de 190 milhões de dólares anuais para financiar missões, seminários e ministérios.
As igrejas batistas do Sul operam independentemente umas das outras, representam cerca de 15 milhões de cristãos, e são, de acordo com The Guardian de dia 12, “dominadas por membros brancos, geralmente muito conservadores. A SBC tem sido nos últimos anos uma poderosa ferramenta para a organização da direita, especialmente em questões relacionadas ao aborto”, mas “está agora tão envolvida em escândalos que um ex-alto funcionário disse que ela enfrentava um ‘apocalipse batista do Sul’”.
A Convenção elegeu em junho um novo presidente, Ed Litton, que representa uma certa rutura com a extrema-direita que tem dominado a SBC nos últimos anos [ver 7MARGENS]. Pastor da Primeira Igreja Batista North Mobile no estado do Alabama, Litton apresentou-se como “alguém que lideraria a Convenção em direção a uma reconciliação racial”, mas venceu o seu opositor, Mike Stone, candidato ultraconservador da Geórgia, favorito da extrema-direita, por apenas quatro pontos percentuais.
“As duas maiores crises na SBC são os abusos sexuais e o debate sobre a teoria racial crítica, e as duas estão muito relacionadas”, disse Sara Moslener, diretora do After Purity Project da Central Michigan University a The Guardian. Acrescentando: “Muito da identidade racial branca passa por negar a realidade da história racista dos Estados Unidos e esconder a questão da agressão sexual nas igrejas evangélicas”.