
Impõe-se ”diagnosticar as múltiplas manifestações patológicas do clericalismo, que o Papa não se cansa de apontar como mortal inimigo da sinodalidade”, defende o padre Pedro Fernandes, Superior Provincial dos Espiritanos. Foto © Missionários do Espírito Santo.
“Impõe-se que a crise por que passamos seja a oportunidade da reforma de que precisamos”, escreve o padre Pedro Fernandes, Superior Provincial dos Espiritanos, no documento intitulado “Perdão“, publicado esta sexta-feira, dia 24 de fevereiro, no site dos Missionários do Espírito Santo em Portugal, a propósito da divulgação do relatório da Comissão Independente para o estudo dos abusos sexuais na Igreja Católica na semana passada.
Criticando os católicos que minimizam as conclusões do relatório com o argumento de que abusos sexuais também os há na sociedade, ou que tudo é produto dos “pretensos inimigos da Igreja”, o Superior dos Espiritanos portugueses confessa o seu “espanto e horror” quando se deu “conta de que, também entre membros professos do instituto religioso” a que pertence, a Congregação do Espírito Santo, “se registaram três casos, todos ocorridos num passado relativamente distante, por gente que já não está entre nós há muitos anos”.
Afirma o padre Pedro Fernandes: “Dói-nos a dor das vítimas – as que falaram e as que mantiveram as suas histórias fechadas na solidão ferida da memória. Dói-nos que não tenhamos sido capazes de evitar esse horror, nem capazes de criar ambiente para que essas (e outras?) pessoas tivessem sido escutadas mais cedo, acolhidas e, tanto quanto fosse possível, curadas. Resta-nos o perdão, apenas possível de acolher se assumirmos os nomes da nossa verdade e reconhecermos a nossa extrema necessidade de reforma e libertação – ainda que o mais importante não seja essa necessidade interna, mas a cura e o reconhecimento devidos às vítimas.”
Essa “extrema necessidade de reforma” passa pela libertação dos “apegos coletivos a padrões de funcionamento e a modelos de auto compreensão que precisam de revisão”, impondo-se ”diagnosticar as múltiplas manifestações patológicas do clericalismo, que o Papa não se cansa de apontar como mortal inimigo da sinodalidade e que um documento dos Missionários Espiritanos, datado já de 2012 (intitulado: ‘Espiritanos Padres’), definia como ‘intrinsecamente pecaminoso, por atentar contra a autêntica natureza daquilo a que a Igreja é chamada a ser’.”