[Os dias da semana]

Acalma-te, pensa

| 19 Mar 2023

As redes sociais são espaço onde o ódio cresce rapidamente. Foto © Josh Withers | Unsplash

As redes sociais são espaço onde o ódio cresce rapidamente. Foto © Josh Withers | Unsplash

 

A quantidade de indignação detectável a olho nu no espaço público é sempre imensa. É, todavia, amiúde, uma indignação suscitada por faits divers divulgados ou amplificados, precisamente, por terem um significativo potencial de indignação. Aquilo que fomentar sentimentos extremados contribui para fazer medrar o vício pelos ecrãs ou, dito de outro modo, o poderoso negócio que assenta na mobilização da atenção, traduzida, no caso das redes sociais, em visualizações, comentários e classificações.

“Está a gerar indignação nas redes sociais”, dizem, a propósito de uma irrelevância qualquer, os velhos meios de comunicação social, desejosos de, através dessa frase-isco, poderem, também eles, atrair a atenção. Há programas televisivos com um olho no público e outro nas redes sociais. E, no entanto, quando se diz “está a gerar indignação nas redes sociais” (ou “a indignação tornou-se viral”), dever-se-ia dizer, para se ser mais exacto, que algo está a fazer com que o negócio do Facebook, do Instagram ou do Twitter prospere.

Para accionar uma indignação tudo serve, mas é quase sempre imprescindível que haja alguém que possa ser desancado. É, pois, requerido um protagonista, um putativo verdugo, contra o qual o mau humor se possa mobilizar. Os famosos são o alvo mais apetecível, mas os anónimos não ficam excluídos. De resto, o anónimo abominado acabará por se tornar conhecido.

Se o objecto da indignação for particularmente adequado, a indignação manter-se-á durante um período assaz significativo. Durante dias, a todas as horas, uma personagem será massacrada no espaço público por causa de uma frase estúpida, de um gesto infeliz ou de uma acção imponderada. Depois, cairão no esquecimento, temporário ou definitivo.

O problema com certas indignações é serem tão-só epidérmicas. As irritações vão-se sucedendo de modo superficial. Sem consequências úteis, transformam-se em ódio com demasiada facilidade e esse ódio auto-satisfaz-se. O ressentimento que unicamente instiga o cinismo não gera seja o que for de benéfico. Nada muda, nada melhora. Cada agastamento faz esquecer o agastamento anterior. Todos vão desaparecendo sem deixar qualquer rasto cívico. Quem se indigna com tudo não se importa com nada.

A circunstância de certas indignações assentarem em má informação ou em desinformação é outro problema. Não raras vezes, as pessoas zangam-se sem razão plausível, porque entenderam mal uma notícia, porque interpretaram erradamente um título, porque viram uma imagem retirada do contexto espacial ou temporal. Ou até porque a própria notícia, título ou imagem induziram em erro – quanta informação não é simplesmente atiçamento? Um pequeno acréscimo de informação seria imprescindível para o esclarecimento cabal de um assunto, mas iria extirpar-lhe ou reduzir-lhe o incitamento emotivo. Todos os dias surgem histórias insuficientemente contadas. Não por acaso. O que se perde em entendimento ganha-se em indignação, engodo infalível para manter a atenção.

Procurar saber como são ao certo as coisas, estar devidamente informado, ter um olhar crítico, saber distinguir o insignificante do importante, não ser cínico, pode fazer diminuir o número de indignações quotidianas, mas logrará ser útil se se quiser reflectir sobre o que, de facto, deve incomodar, se se desejar identificar que causas colectivas devem, realmente, ser mobilizadoras.

 

Os silêncios de Pio XII foram uma escolha – e que custos teve essa opção?

“A Lista do Padre Carreira” debate

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Os silêncios do Papa Pio XII durante aa Segunda Guerra Mundial “foram uma escolha”. E não apenas no que se refere ao extermínio dos judeus: “Ele também não teve discursos críticos sobre a Polónia”, um “país católico que estava a ser dividido pelos alemães, exactamente por estar convencido de que uma tomada de posição pública teria aniquilado a Santa Sé”. A afirmação é do historiador Andrea Riccardi, e surge no contexto da reportagem A Lista do Padre Carreira, que será exibida nesta quarta-feira, 31 de Maio, na TVI, numa parceria entre a estação televisiva e o 7MARGENS.

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Breves

 

JMJ realizou em 2022 metade das receitas que tinha orçamentado

A Fundação Jornada Mundial da Juventude (JMJ) Lisboa 2023 obteve no ano passado rendimentos de 4,798 milhões de euros (menos de metade do previsto no seu orçamento) e gastos de 1,083 milhões, do que resultaram 3,714 milhões (que comparam com os 7,758 milhões de resultados orçamentados). A Fundação dispunha, assim, a 31 de dezembro de 2022, de 4,391 milhões de euros de resultados acumulados em três anos de existência.

Debate em Lisboa

Uma conversa JMJ “conectada à vida”

Com o objectivo de “incentivar a reflexão da juventude” sobre “várias problemáticas da actualidade, o Luiza Andaluz Centro de Conhecimento (LA-CC), de Lisboa, promove a terceira sessão das Conversas JMJ, intitulada “Apressadamente conectadas à vida”.

“É o fim da prisão perpétua para os inimputáveis”, e da greve de fome para Ezequiel

Revisão da lei aprovada

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Há uma nova luz ao fundo da prisão para Ezequiel Ribeiro – que esteve durante 21 dias em greve de fome como protesto pelos seus já 37 anos de detenção – e também para os restantes 203 inimputáveis que, tal como ele, têm visto ser-lhes prolongado o internamento em estabelecimentos prisionais mesmo depois de terminado o cumprimento das penas a que haviam sido condenados. A revisão da lei da saúde mental, aprovada na passada sexta-feira, 26 de maio, põe fim ao que, na prática, resultava em situações de prisão perpétua.

Especialistas mundiais reunidos em Lisboa para debater “violência em nome de Deus”

30 e 31 de maio

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A Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL) acolhe esta terça e quarta-feira, 30 e 31 de maio, o simpósio “Violence in the Name of God: From Apocalyptic Expectations to Violence” (em português, “Violência em Nome de Deus: Das Expectativas Apocalípticas à Violência”), no qual participam alguns dos maiores especialistas mundiais em literatura apocalíptica, história da religião e teologia para discutir a ligação entre as teorias do fim do mundo e a crescente violência alavancada por crenças religiosas.

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