
Arcebispo Anthony Fisher, de Sydney, que presidiu à missa de abertura do 5º concílio, aqui entre leigos, numa foto de maio de 2021, retirada da página do seu Facebook.
Na semana em que o mundo católico teve as atenções concentradas no Relatório Sauvé sobre os crimes de abuso sexual massivo de crianças em ambientes eclesiais, passou relativamente despercebido internacionalmente o arranque do Concílio Plenário da Igreja Católica da Austrália.
O que de algum modo liga estes dois acontecimentos é o facto de também a Igreja Católica da Austrália ter conhecido uma longa e grave crise, por causa dos abusos sexuais do clero. O caso mais paradigmático foi o julgamento e prisão do cardeal George Pell, e sua posterior libertação pelo facto de a justiça não ter sido capaz de provar alegados crimes atribuídos àquele hierarca.A primeira assembleia geral deste Concílio, que é já o quinto, teve início no domingo, dia 3, e terminará no próximo domingo, depois de uma prolongada fase de preparação e de um adiamento motivado pela eclosão da pandemia. As sessões plenárias são transmitidas em direto, via internet.
Os cerca de 280 membros, incluindo os nomeados por dioceses, líderes de congregações religiosas e ministérios eclesiais, foram desafiados a responder a 16 questões relativas a seis temas, identificadas como críticas para o futuro da Igreja australiana. Os trabalhos decorrem em plenários e em trabalhos de grupo, mas a dinâmica é sinodal.
Um exemplo pode ser colhido dos trabalhos desta quinta-feira, em que os membros passaram “um tempo extra offline, orando e refletindo em torno de duas questões:
“Como podemos curar as feridas dos abusos, colocando-nos do ponto de vista daqueles que foram abusados? Como é que a Igreja australiana pode atender às necessidades dos mais vulneráveis, ir para as periferias, ser missionária em lugares negligenciados ou deixados para trás na Austrália contemporânea? Como podemos estabelecer parcerias com outras pessoas (cristãos, pessoas de outras religiões, grupos comunitários de bairro, governo) para conseguir isso?”
Entre os temas que foram emergindo nos grupos e apresentados ao conjunto dos participantes destaca-se a formação de pequenas comunidades eclesiais (grupos domésticos / familiares); mudanças estruturais como sínodos diocesanos; como dar uma resposta pública às vítimas e sobreviventes dos abusos sexuais durante o percurso do Concílio; como responder ao “lado mais escuro da nossa Igreja e da sociedade, onde o racismo, a exclusão e a injustiça causaram traumas, feridas e sofrimento”.
Um tema que surgiu foi o da necessidade imperiosa de acolher a diversidade de comunidades migrantes presentes no país e de dar espaço, incluindo nas orações do próprio Concílio, às formas de expressão dos povos indígenas.