Acolher sem porquês

| 26 Jun 2022

Foto do dicionário caseiro que Isabel Melo tem para se entender com a refugiada que acolheu.

Foto do dicionário caseiro que Isabel Melo tem para se entender com a refugiada que acolheu.

 

Eu e o meu namorado vivemos na Alemanha e decidimos desde o início da guerra na Ucrânia hospedar refugiados em nossa casa.

Pensámos muito: nenhum de nós tem muito tempo disponível e sabíamos que hospedar refugiados não é só ceder um quarto, é ceder paciência, muita paciência, compreensão, ajuda com documentos, conhecimento de língua (não materna também para nós) e burocracia (mal, porque não somos refugiados, por isso é também novo para nós).

A única condição que pusemos foi serem dois. Duas pessoas que vêm da mesma situação não se sentem sozinhas e apoiam-se mutuamente. Quando começámos a pensar em condições que nos pudessem facilitar a vida rapidamente saltámos para o jogo das compatibilidades: já agora era bom se falassem inglês e se fossem vegetarianos porque nós também somos. Decidimos que não, que uma pessoa que não fale inglês, não seja vegetariana e esteja sozinha também tem direito a ser acolhida. Ainda assim mantivemos a condição de serem duas pessoas, porque sabíamos que não teríamos a disponibilidade emocional para apoiar uma pessoa sozinha. 

Obviamente saiu-nos tudo ao lado: calhou-nos um casal de 25 anos, de Mikolaiv, que não falava uma palavra de inglês, não tinha email e não percebia o porquê de ter de ir a cinco sítios diferentes registar-se para ter ajuda. Além disso, ao fim de uma semana, ele conseguiu trabalho nos EUA e ela ficou sozinha (contrariando a única condição que mantivéramos, a de não acolher pessoas sozinhas).

A comunicação passa sempre por dois níveis de dificuldade: a língua – para a qual usamos o Google tradutor inglês-russo (língua comum na região), nunca sabendo se a tradução é fidedigna; e os conceitos – compreensão da burocracia alemã, difícil até para um alemão, imagine-se para pessoas que não tinham email.

Foto do dicionário caseiro que Isabel Melo tem para se entender com a refugiada que acolheu.

Foto do dicionário caseiro que Isabel Melo tem para se entender com a refugiada que acolheu.

É difícil, é muito difícil e não me arrependo. É frustrante, é muito frustrante para nós e é mais para ela. Ter deixado tudo para trás, casa, família (mãe), o ganha-pão, estar sozinha num país em que não fala nenhuma das línguas possíveis, dificuldade de confiar nos outros, assinar documentos que não percebe. Não pode ser fácil. Nem para ela, nem para nós.

E mesmo assim não me arrependo. Ajudo sem fazer perguntas porque gostava que fizessem o mesmo por mim. Ajudo sem fazer perguntas porque TODOS temos direito a uma vida digna. Nem todos tivemos a sorte de nascer no lado bom do mundo. O Artº 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.” Talvez devêssemos mudar o nome do documento para Declaração Universal dos Direitos Ocidentais.

Isabel Melo, cidadã do mundo, trabalha como educadora em Munique (Alemanha).

 

ONU pede veto da lei contra homossexuais no Uganda, Igreja em silêncio

Prevista pena de morte

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Uma nova legislação aprovada pelo Parlamento ugandês esta semana prevê penas de até 20 anos de prisão para quem apoie “atividades homossexuais” e pena de morte caso haja abusos de crianças ou pessoas vulneráveis associados à homossexualidade. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Volker Turk, já pediu ao presidente do país africano que não promulgue esta “nova lei draconiana”, mas os bispos do país, católicos e anglicanos, permanecem em silêncio.

Corpo Nacional de Escutas suspende alegado abusador de menores

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O Corpo Nacional de Escutas (CNE) suspendeu preventivamente um elemento suspeito da prática de abusos sexuais de menores, depois de ter recebido da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja Católica a informação de sete situações de alegados abusos que não eram do conhecimento da organização. Em comunicado divulgado esta sexta-feira, 24 de março, o CNE adianta que “está atualmente a decorrer o processo interno de averiguação, para decisão em sede de processo disciplinar e outras medidas consideradas pertinentes”.

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Em Lisboa

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O Luiza Andaluz Centro de Conhecimento, ligado á congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima, acolhe na próxima quinta-feira, 30 de março, a primeira de três sessões do ciclo de “Conversas JMJ”. Esta primeira conversa, que decorrerá na Casa de São Mamede, em Lisboa, pelas 21h30, tem como título “Maria – mulheres de hoje” e será dedicada ao papel da mulher na sociedade atual.

Além da montanha… existe um arco-íris

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Vi o livro no balcão do espaço de atendimento, no seminário dos Dehonianos, em Alfragide. A capa chamou-me a atenção. Peguei nele, folheei aleatoriamente e comecei a ler algumas frases. Despertou-me curiosidade, depois atenção e logo após interesse. (Opinião de Rui Madeira).

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