
No livro, é feita uma reflexão sobre a necessidade de “amar os presos” (sem interrogações, exclamações ou reticências).
Um alerta para que se fale das pessoas que vivem em situação de privação de liberdade, periferia que se encontra quase esquecida por muitos católicos incluindo sectores da própria hierarquia católica, apesar da sua Pastoral Penitenciária – tal é o foco do livro Amar os Presos?!… – Inquietações e Contributos de um visitador prisional, da autoria de Paulo Neves. O autor faz parte da Unidade Pastoral dos Estabelecimentos Prisionais de Custóias, Sta. Cruz do Bispo e cadeia anexa à Polícia Judiciária (Porto).
Paulo Neves destaca a importância de pôr a sociedade a refletir sobre os presos como “pessoas que somos chamados a amar, para além das suas falhas, no meio de múltiplas inquietações, preconceitos e inseguranças”. O “grande beneficiário”, acrescenta, é a sociedade em geral: “Com pessoas (re) inseridas, ela será mais coesa, mais justa, mais fraterna e, assim, mais feliz.”
No livro faz-se uma reflexão sobre o sistema prisional, sobre a Pastoral Penitenciária católica que há muitos anos acompanha os reclusos – e que o autor integra –, sobre algumas boas práticas dos visitadores prisionais e, essencialmente, sobre a necessidade de “amar os presos” (sem interrogações, exclamações ou reticências). Neles, para os cristãos, está Jesus, que com os presos se identifica no capítulo 25 do Evangelho de São Mateus, e que continua na prisão à espera que o visitem. Aliás, não podemos jamais esquecer que Jesus termina a sua vida na condição de recluso, condenado e executado.
O objetivo principal do livro é, pois, chamar a atenção para esta realidade periférica, procurando vê-la cada vez mais como “uma arte de cuidar”, tendo sempre em mente que qualquer pessoa é maior do que o seu erro.
Houve quatro sessões de apresentação da obra: no Centro Português de Fotografia (Antiga Cadeia da Relação), no XVII Encontro Nacional da Pastoral Penitenciária em Fátima, no Estabelecimento Prisional de Custóias e no Estabelecimento Prisional anexo à Polícia Judiciária do Porto. Na sessão realizada neste último, dizia um dos reclusos: “Amar os presos não é para qualquer um! E os nossos visitadores são o exemplo mais gritante do amor aos presos! Eles que nos acompanham há tantos anos e são semanalmente o bálsamo, o maná, a força, a esperança, a fé e o alento de que precisamos para atravessar este penoso e doloroso caminho que é estar preso!”.
Amar os Presos?!… – Inquietações e Contributos de um visitador prisional, de Paulo Neves
Editorial Cáritas
146 páginas,15 euros
Lígia Pires é visitadora prisional.