
Centro Ismaili de Lisboa, onde ocorreu o ataque desta terça-feira. O diretor da Polícia Judiciária deixou uma mensagem de solidariedade com a Comunidade Ismaili e apelou a que não se façam generalizações. Foto © the.ismaili.
A Polícia Judiciária (PJ) afastou a hipótese de o ataque ocorrido esta terça-feira, 28, no Centro Ismaili, em Lisboa, ter tido motivações religiosas. De acordo com o diretor da PJ, Luís Neves, o autor do ataque que vitimou duas colaboradoras do centro terá sofrido um surto psicótico.
“Não há um mínimo indício, um único sinal de matriz religiosa”, sublinhou o responsável da PJ, citado pelo jornal Expresso, sublinhando que o suspeito, Abdul Bashir, tem uma vida “ocidentalizada”, com os três filhos menores integrados na sociedade portuguesa.
A Polícia Judiciária reconstituiu a vida do agressor, desde a fuga do Afeganistão, a passagem pelo campo de refugiados em Lesbos (Grécia), onde a sua esposa faleceu na sequência de um incêndio, até à chegada a Portugal, em 2021. Será, em breve, realizada uma perícia psiquiátrica.
Já os três filhos do suspeito foram acolhidos provisoriamente numa instituição, depois de acompanhados por pessoas da Comunidade Ismaili que os conhecem, bem como por equipas de psicólogos e da Segurança Social. Para já, mantêm as rotinas escolares e o contacto com essas pessoas.A Comunidade, de acordo com o Centro Ismaili citado pelo DN, ofereceu-se para os acolher em famílias.
Na sua declaração, o responsável da Polícia Judiciária deixou ainda uma mensagem de solidariedade em relação à Comunidade Ismaili e apelou a que não se façam generalizações, até porque o ato cometido é de “natureza comum”.
No mesmo sentido, o Observatório para a Liberdade Religiosa (OLR), sediado na Universidade Lusófona, divulgou um comunicado onde sublinha que a interpretação do sucedido “não pode levar à criação de uma instabilidade e de um retrocesso no franco convívio religioso”.
“A Comunidade Ismaelita, constituída em grande parte por cidadãos portugueses de origem moçambicana e indiana, perfeitamente integrados na sociedade portuguesa, sempre foi das comunidades mais empenhadas no diálogo, seja com outras confissões religiosas, seja com o Estado”, recorda o texto do Observatório, concluindo que “a violência extrema” deste ataque “não pode ser entendida como mais que um acontecimento isolado”.
Assim, “todos os atores, políticos, de segurança, académicos e, naturalmente, religiosos, devem em conjunto prosseguir no trabalho de diálogo e respeito até aqui trilhado, um dos patrimónios mais importantes que temos”, recomenda o OLR.
A Comunidade Islâmica de Lisboa juntou a sua voz às da Igreja Católica e da Aliança Evangélica Portuguesa, manifestando, em comunicado divulgado nas suas redes sociais, “total solidariedade para com toda a comunidade” que está em sofrimento. “Neste mês sagrado de Ramadão, pedimos a Deus para que ajude a ultrapassar estes momentos de dor”, pode ler-se no texto.
Também a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) manifestou esta quarta-feira a sua “consternação” pelo ataque, e “solidariedade para com os familiares e amigos das vítimas, assim como para com a própria comunidade religiosa”.
Catarina Martins de Bettencourt, diretora do secretariado nacional da Fundação AIS, sublinha que em Portugal “não se têm registado casos significativos de violência nem de discriminação por motivos religiosos”, e que, independentemente das motivações que estiveram na origem deste ato criminoso, “os lugares de culto e das respectivas comunidades devem ser sempre respeitados e preservados como espaços sagrados, sendo que nada justifica o recurso à violência”.