
Intitulada “Cartas do Holocausto”, a exposição nasceu de uma seleção feita entre as milhares de cartas que a Biblioteca de Wiener tem vindo a colecionar deste que foi fundada, em 1933. Foto © Biblioteca do Holocausto de Wiener.
São mais de 60 cartas escritas por judeus durante o período do Holocausto, algumas delas contendo aquelas que são as suas últimas palavras conhecidas, antes de terem sido vitimas do genocídio nazi, e podem ser vistas em público pela primeira vez a partir desta quarta-feira, 22 de fevereiro, na Biblioteca do Holocausto de Wiener, em Londres.
Intitulada “Cartas do Holocausto”, a exposição nasceu de uma seleção feita entre as milhares de cartas que a Biblioteca tem vindo a colecionar deste que foi fundada, em 1933, e que continua, ainda hoje, a receber, o que leva os pesquisadores a concluir que “a história da Shoah ainda está a ser escrita”, explica Sandra Lipner, umas das curadoras desta mostra, citada pelo jornal Jewish News.
Entre as cartas em exibição, vão estar aquelas que Maria e Maximilian Wortman escreveram ao seu primo Ludwik e à sua filha Dziunia. “Ludwik, nós imploramos-te. Se não houver regresso para nós, cuida da Dziunia. Tu és o único que resta…”, pediam ao primo. E depois à filha: “Querida Dziunia! Obviamente, este é o nosso destino. Diziunia, sê corajosa e lida com isto… Adeus, e vai corajosamente para a vida!”.

“Ludwik, nós imploramos-te. Se não houver regresso para nós, cuida da Dziunia. Tu és o único que resta…”, pode ler-se numa das cartas.
O facto de Dziunia ter sobrevivido ao Holocausto é absolutamente notável (ela morreu em Londres, em 2015, aos 93 anos), mas a sobrevivência das cartas é, em si, “um mistério e um milagre” para a Biblioteca de Wiener. É que as cartas foram escritas enquanto Maria e Maximilian estavam no gueto de Varsóvia, à espera do comboio que os levaria para o campo de extermínio de Treblinka, onde viriam a ser assassinados.
Algumas das cartas contêm grandes áreas em branco, fruto da censura de que eram alvo quando se referiam ao tratamento de que os judeus eram alvo. Noutra das cartas que poderá ser vista na exposição, pode ler-se: “Ajuda, ajuda, ajuda…”. Depois, termina abruptamente.
Estas cartas, assinala Sandra Lipner, “muitas vezes estão a tentar descrever o indescritível”. Numa altura em que as palavras “Holocausto” e “genocídio” ainda não existiam, as missivas mostram que, ao contrário do que geralmente se pensa, os judeus da Europa ocupada nazi estavam muito conscientes do seu eventual destino.
A exposição, de entrada gratuita, estará patente até 16 de junho. Até lá, estão previstas palestras e outros eventos associados, alguns deles com transmissão online. A agenda e modo de participação podem ser consultados no site da Biblioteca do Holocausto de Wiener.