
Cemitério judaico de Mainz, na Alemanha, um dos lugares que fazem agora parte da lista de Património Mundial da UNESCO. Foto © Generaldirektion Kulturelles Erbe Rheinland-Pfalz.
A Alemanha acaba de celebrar a inclusão dos primeiros lugares germano-judaicos na lista de Património Mundial da UNESCO. Situados na parte superior do vale do rio Reno, terá sido nestes locais que, no século XI, nasceu a cultura judaica asquenaze e começou a desenvolver-se o idioma iídiche (a língua franca dos judeus da Europa central e de leste).
O reconhecimento por parte da UNESCO tinha acontecido já em julho de 2021, mas devido à pandemia de covid-19, só na semana passada foi celebrado no país, noticia o jornal Jewish News esta segunda-feira, 6 de fevereiro.
Os lugares que integram agora a lista de Património Mundial ficam nas cidades alemãs de Mainz, Speyer e Worms, e incluem os antigos cemitérios de Mainz e Worms, a sinagoga de Worms, e o Speyer Judenhof, com o seu banho ritual medieval.
Estes locais são frequentemente referidos como monumentos “SchUM”, designação que junta as letras iniciais das cidades em hebraico: Speyer (Schpira), Worms (Uarmaisa) e Mainz (Magenza).
Durante a celebração, o Presidente alemão, Frank Walter-Steinmeier, referiu que “antes de 27 de julho de 2021, havia 49 sítios do Património Mundial” no país. “A lista refletia a diversidade da cultura e da natureza, mas tinha uma grande lacuna: não havia monumentos culturais judaicos”, sublinhou.
Steinmeier destacou ainda que estes locais evidenciam como a história do judaísmo na Alemanha vai muito além do Holocausto e teve muitos momentos negativos, mas também positivos. As cidades de Speyer, Mainz e Worms foram palco de grandes massacres de judeus durante as Cruzadas e a epidemia de peste bubónica no século XIV, mas também abrigaram alguns dos mais importantes líderes do judaísmo europeu, como o famoso autor de comentários sobre a Torá, o rabino Shlomo Yitzhaki, conhecido como Rashi.
“Durante séculos, os judeus na Alemanha foram vistos como estranhos, como outros. Eles foram repetidamente humilhados, excluídos, privados de direitos, perseguidos, assassinados, mesmo antes de os nacional-socialistas e os seus carrascos voluntários quase terem eliminado completamente a vida judaica na Alemanha e na Europa”, disse Steinmeier, destacando que “os monumentos e lápides em Speyer, Worms e Mainz falam das profundas raízes dos judeus no nosso país, do florescimento da sua cultura, da autoafirmação e emancipação, dos tempos de coexistência pacífica com a maioria cristã”.
O Presidente alemão foi acompanhado na celebração por Audrey Azoulay, diretora-geral da UNESCO, uma judia francesa, filha de Andre Azoulay, um banqueiro judeu nascido em Marrocos, que é atualmente conselheiro do rei Mohammed VI de Marrocos.