Futuro do Caminho Sinodal em questão

Alta tensão na assembleia dos bispos alemães

| 28 Fev 2023

eorg batzing caminho sinodal alemao foto © Synodaler WegMaximilian von Lachner

Georg Bätzing, presidente do episcopado alemão: as dores de cabeça nao param. Foto © Synodaler WegMaximilian von Lachner

 

Os bispos alemães já sabiam há meses que teriam uma assembleia difícil, depois dos encontros havidos no Vaticano em novembro último, com os prefeitos dos dicastérios para os Bispos e a Doutrina da fé, cardeais Ouellet e Ladaria, respetivamente. Mas os últimos dias adensaram as tensões e as preocupações.

No último mês de janeiro, uma carta com cobertura papal traduziu a inquietação romana num ponto muito concreto e decisivo: se o sínodo da Igreja Católica alemã, com sessão final prevista para os próximos dias, aprovar um “conselho sinodal”, espécie de superestrutura em que leigos e bispos participariam na tomada de decisões, a medida será nula, por contrariar o Código de Direito Canónico da Igreja Católica.

Nas últimas semanas, manteve-se a imagem de uma certa coesão interna entre o episcopado e o movimento dos católicos alemães, mas alguns bispos desligaram-se do Caminho Sinodal e, mais recentemente, outros representantes, ainda que em número reduzido, manifestaram igualmente o seu distanciamento.

Com o clima crispado, chegou o dia do arranque da assembleia plenária do episcopado, esta segunda-feira, 27 de fevereiro, na cidade de Dresden. Depois de uma missa solene de abertura dos trabalhos, na catedral da cidade, a primeira sessão de trabalhos foi ocupada com discursos, nomeadamente os do presidente da Conferência Episcopal, o bispo Georg Bätzing, e o do núncio apostólico, o arcebispo Nikola Eterovic.

Se o clima já estava crispado, a intervenção do núncio, ainda que expectável, carregou nas tintas. Eterovic tornou claro para o episcopado e para a Igreja alemã que havia sido oficialmente encarregado de clarificar alguns pontos sobre o “não” de Roma ao conselho sinodal. Segundo afirmou, a “interpretação correta” da carta do Vaticano, de janeiro, implica que nem mesmo um bispo diocesano possa constituir um conselho sinodal diocesano; nem um pároco um conselho sinodal paroquial.

Este esclarecimento vem cortar as pretensões de vários bispos que haviam anunciado a intenção de prosseguir com o caminho sinodal nas respetivas dioceses, apesar do “travão” vindo da Cúria Romana.

O presidente da Conferência Episcopal, bispo Georg Bätzing, fez um discurso de lançamento dos trabalhos em que recordou que a agenda prevê um dia dedicado ao Caminho Sinodal e que há a vontade da grande maioria dos bispos alemães de prosseguir com o processo da reforma da Igreja, como resposta ao desastre dos abusos sexuais e ao crescente abandono de católicos.

Bätzing lamentou que a comunicação entre o Vaticano e os bispos alemães tenha sido “difícil” e, segundo o jornal católico inglês The Tablet, voltou a referir que os bispos alemães tinham compreendido, aquando da última visita ad limina, que as conversações entre a Conferência Episcopal alemã e o Vaticano iriam continuar. Nesse sentido, manifestou a disponibilidade de, a curto prazo, ir a Roma, para que as conversações possam prosseguir.

O presidente dos bispos foi claro quanto à questão do cisma, que os inimigos do Caminho Sinodal alemão têm apontado: “Aqueles que falam de um cisma esperam obter algo [de um cisma]. Eu não falo de cisma porque [aqui] ninguém o quer“.

Por fim, o presidente da Conferência revelou ter enviado uma resposta à carta do Vaticano, de 16 de janeiro último, relacionada com a criação do conselho sinodal, embora não tenha adiantado o seu teor. “Oportunamente, o conteúdo será dado a conhecer”, disse.

Na celebração eucarística a que presidiu nesta terça-feira de manhã, e falando já depois das intervenções do dia anterior, o cardeal Marx, que foi quem lançou este Caminho Sinodal, pediu aos colegas “mais coragem” para afrontar as reformas de que a Igreja necessita.

“Porquê tanto medo? Porquê tanta preocupação com o que está por vir?”, perguntou Marx na homilia. E referindo-se a uma expressão que atribuiu ao teólogo Karl Rahner, prosseguiu: “Talvez os movimentos de busca sinodal que estamos a experimentar atualmente na Alemanha e noutras partes sejam apenas o começo de um começo.” Aos que acharam que o Concílio Vaticano II era a conclusão final, Rahner respondeu com “o começo de um começo”. “Não foi um fim então, e não é assim hoje.”

O “braço de ferro” dos bispos e da Igreja alemã com o Vaticano poderá continuar por mais algum tempo, mas o episcopado tem, nestes dias de encontro em Dresden, de decidir como vai lidar com uma situação “crítica” para o processo de reforma do Caminho Sinodal alemão e que, como o próprio presidente dos bispos entende, “deve ser levada muito a sério”.

O Vaticano exige, no essencial, que, no respeitante ao governo da Igreja, continuem a ser os bispos e a Cúria Romana, e o Papa em última instância, a ter o poder decisório, sem interferência de outros, pelo menos com caráter deliberativo.

O Sínodo alemão, que vai tomar a decisão final quanto à proposta de um conselho que coloca à roda da mesma mesa decisória bispos, religiosos e leigos vai ser o momento em que se verá para que lado pendem as opções. Nele os bispos têm poder de bloqueio. Mas têm manifestado concordância com a proposta. Será que vão maioritariamente afrontar a posição do Vaticano?

Esta reunião do episcopado poderá (ou não) deixar antever o que se vai passar.

 

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