
Foto: D Américo Aguiar, nomeado cardeal pelo Papa Francisco, responsável máximo em Portugal pela JMJ Lisboa. © Ricardo Perna
Há poucos anos ouvia de um padre responsável pela pastoral dos jovens de uma diocese de Portugal, quando questionado sobre a “ideologia de género” e os gays, que tal estava fora da Igreja. Fiquei com a noção de que na Igreja Católica portuguesa não tinha lugar uma larga faixa de jovens existentes em Portugal e no mundo. Foi triste, para mim, ouvir de um responsável, para mais também responsável pela organização da Jornada Mundial da Juventude de Lisboa (JMJ), uma teoria colocando de parte rapazes e raparigas, homens e mulheres, em idade jovem, e fora de Jesus, todos e todas que de alguma maneira fariam parte dos excluídos da Igreja. No entanto tinha a noção e a certeza de que muitas tradições religiosas assim não pensavam. Tudo passaria apenas pela cabeça de um responsável, que afinal não era “responsável”, com estas suas atitudes excludentes de quem tinha o direito de pensar de outra forma e estar dentro da Igreja de Jesus que recusa a exclusão. Muitos pensarão como ele, mas outros afirmarão o contrário.
Américo Aguiar, nomeado cardeal pelo Papa Francisco, responsável máximo em Portugal pela JMJ Lisboa, assim não pensa, e ainda bem. Retirando a circunstância de ser um seu admirador pelo trabalho excelente, e que está a dar frutos, na Irmandade dos Clérigos do Porto, a que pertence a Torre dos Clérigos, não poderei estar mais de acordo com ele quando afirma que a JMJ não se realiza para “converter os jovens a Cristo ou à Igreja” e dado que “a Igreja nem sempre promoveu a diferença”, os jovens presentes na JMJ não vêm a Lisboa “sempre por motivos religiosos, mas uma diversidade” de motivos: desde piscarem o olho à namorada aos que vêm por razões turístico-culturais, razões religiosas, razões de absolutamente nada, porque vêm juntamente com outros” no sentido de que a JMJ “é uma escola de mútuo conhecimento uns dos outros”. Estão presentes “crentes e não crentes” porque é nesta diversidade que se encontra a riqueza, “não um obstáculo”. Fundamentalmente é necessário que os jovens sejam “sonhadores, lutadores e poetas” e encontrem nesta Jornada uma “cultura do encontro e cultura de ternura, que só os jovens são capazes”.
Américo Aguiar é um caminhante, que sabe bem o caminho que Jesus quer para o mundo de hoje, por isso imprimiu um caminho que nada tem que ver com o senhor padre que referi no início. Podem dizer que é uma mudança da Igreja, e é verdade: é uma leitura dos sinais de Jesus para os tempos que estamos a viver. Muitos, até a nível internacional, se levantaram contra as palavras acima descritas por Américo Aguiar. O que é natural! O novo nunca é aceite pelos que olham para o passado: veja-se Jesus e a sua passagem aqui na Terra. Inaugurou uma nova Era, com um olhar sobre o mundo diferente do do Antigo Testamento. Por isso foi morto, mas ressuscitou, e é este ressuscitado que nos impele a sermos subversivos, no sentido que estamos a lutar, “ser revolucionário”, como diz Américo Aguiar, por um mundo novo, por uma Igreja de partilha e missão.
Obrigado, bispo Américo Aguiar, pelo testemunho que dá das razões da nossa fé.
Joaquim Armindo é diácono católico da diocese do Porto, doutorado em Ecologia e Saúde Ambiental.