
O barco que viria a afundar-se: “Esta é uma tragédia de proporções inimagináveis, tanto mais que era totalmente evitável”, disse Adriana Tidona, investigadora da Amnistia Internacional sobre migrações. Foto © Guarda Costeira Grega (junho 2023)
A Amnistia Internacional (AI) manifestou nesta sexta-feira a sua profunda preocupação “com a falta de clareza da versão do incidente apresentada pelas autoridades gregas” sobre o desastre ocorrido no Mediterrâneo ao fim do dia de quarta-feira e que terá vitimado centenas de pessoas – incluindo muitas mulheres e crianças.
Num comunicado enviado ao 7MARGENS, a organização de defesa dos direitos humanos diz que a versão das autoridades gregas não é clara e insta a uma investigação urgente, exaustiva, independente e imparcial sobre o que aconteceu.
“Esta é uma tragédia de proporções inimagináveis, tanto mais que era totalmente evitável. Exigimos uma investigação urgente, exaustiva, independente e imparcial sobre o que aconteceu para causar esta catástrofe, e que seja prestada assistência e apoio aos sobreviventes”, declarou Adriana Tidona, investigadora da Amnistia Internacional sobre migrações, citada no documento.
A responsável acrescenta: “São muitas as perguntas que exigem respostas. Por que razão não foi lançada uma operação de busca e salvamento muito mais cedo? O que é que provocou o naufrágio do navio? Aqueles que perderam a vida, os sobreviventes e as suas famílias merecem transparência, verdade e justiça.”
De facto, recorda a Amnistia, a guarda costeira grega informou inicialmente que várias pessoas que estavam no barco “recusaram” a assistência da Grécia e queriam seguir para Itália. A AI diz, no entanto, que era impossível consultar as centenas de pessoas que seguiam no barco acerca dos seus desejos, e lembra que o Governo grego tinha responsabilidades específicas para com todos os passageiros do navio, que estava claramente em perigo.
“Embora seja urgentemente necessária uma investigação para esclarecer as circunstâncias do incidente, esta tragédia é a última de uma longa cadeia de naufrágios na Grécia e em toda a Europa que eram totalmente evitáveis. Hoje, as famílias estão de luto pelos seus entes queridos e outras procuram aqueles que não conseguem encontrar. Os políticos europeus poderiam ter evitado que isto acontecesse, estabelecendo rotas seguras e legais para as pessoas chegarem à Europa. Esta é a única forma de evitar tragédias tão frequentes”, acrescentou Adriana Tidona.
No mesmo documento, a AI pede ainda que as autoridades gregas divulguem mais informações sobre as circunstâncias que levaram à sua decisão de não resgatar o navio mais cedo. E diz que a Frontex, a Guarda Europeia de Fronteiras e Costeira, deve divulgar informações e imagens aéreas recolhidas no âmbito da sua observação dos acontecimentos, que serão “fundamentais para reconstituir o incidente, uma vez que os seus aviões de vigilância comunicaram ter detectado o navio na terça-feira de manhã”.
Os sobreviventes e as famílias afectadas deve ter “acesso a apoio psicológico adequado, a cuidados e a formas de comunicar com os seus entes queridos e de comunicar o desaparecimento de pessoas”, acrescenta a Amnistia. E todos devem ser alojados num ambiente seguro.
Papa com “profunda dor”

O Papa Francisco manifestou entretanto uma “profunda dor pela morte dos migrantes”, no barco de pesca que naufragou na quarta-feira, ao largo da costa grega. Numa mensagem publicada na rede social Twitter, após a sua saída do Hospital Gemelli, em Roma, o Papa escreveu: “Sinto profunda dor pela morte dos migrantes, entre os quais muitas crianças, no naufrágio ocorrido no Mar Egeu”.
Na quarta-feira, um barco de pesca com centenas de migrantes, que viajavam da Líbia para Itália, naufragou, ao largo da costa da Grécia; foram resgatadas 104 pessoas com vida e recuperados 78 corpos. Mas calcula-se que haja talvez umas cinco ou seis centenas de vítimas, tendo em conta que o barco transportaria cerca de 750 pessoas. A Guarda Costeira grega realizou nesta sexta-feira o seu “terceiro e último dia de buscas”, no Mar Mediterrâneo, a cerca de 80 quilómetros da cidade costeira de Pylo, informou o portal Vatican News, citado pela Ecclesia.
Segundo a Organização Internacional para as Migrações, das Nações Unidas, é possível que a bordo da traineira de pesca estivessem até 750 pessoas; as autoridades gregas e a agência de proteção de fronteiras da União Europeia, Frontex, rastrearam o barco antes do afundamento na quarta-feira.
“Devemos fazer todo o possível para que os migrantes que fogem da guerra e da pobreza não encontrem a morte enquanto buscam um futuro de esperança”, acrescentou Francisco, na conta Pontifex_pt.
Na manhã desta sexta-feira, quando saiu do Hospital Gemelli, onde se encontrava internado desde o dia 7 de Junho para ser operado a uma hérnia abdominal, o Papa já tinha lamentado esta nova tragédia no Mediterrâneo, manifestando “muita, muita dor”.
Na véspera, o Papa enviara um telegrama ao núncio apostólico em Atenas, Jan Romeo Pawlowski, no qual dizia estar “profundamente consternado ao saber do naufrágio na costa da Grécia, com a devastadora perda de vidas” e oferecendo “orações sinceras pelos muitos migrantes que morreram, os seus entes queridos e todos os que ficaram traumatizados por esta tragédia”.