
Os arcebispos de York e Cantuária procuram responder de forma categórica à polémica sobre o grau de independência e a seriedade do Conselho Independente de Proteção de Menores (e de pessoas vulneráveis). Foto © Lambeth Palace.
Em comunicado conjunto datado desta quinta-feira, 20 de julho, os arcebispos de Cantuária e de York tentam pôr cobro a semanas e meses de turbulência e controvérsias sobre o Conselho Independente de Proteção de Menores ao solicitarem a Alexis Jay uma proposta de uma nova configuração daquele órgão que “permita à Igreja de Inglaterra dotar-se rapidamente de uma supervisão objetiva, independente, confiável e resiliente de proteção” dos menores e outras pessoas vulneráveis.
Os arcebispos pediram à professora Jay, de acordo com o Church Times de 20 de julho, que produzisse até ao final do ano um relatório sobre o “Programa de Proteção do Futuro” na Igreja Anglicana, relatório que “muito provavelmente assumirá a forma de uma avaliação das diversas opções possíveis, mas contendo uma recomendação final sobre o modelo preferido para o novo órgão”. As propostas serão analisadas pelo Conselho dos Arcebispos, a Câmara dos Bispos e o Sínodo Geral, que finalmente tomará decisões sobre qual o modelo a seguir, afirmando desde já que será “uma estrutura totalmente independente capaz de realizar escrutínio sobre a Igreja de Inglaterra e garantindo proteção contra quaisquer crimes sexuais” que nela possam ser desenhados ou pensados.
A professora Alexis Jay é uma figura pública de reconhecido mérito que conduziu entre 2015 e 2020 a Investigação Independente sobre Abuso Sexual Infantil na Igreja de Inglaterra (anglicana) revelando no seu relatório final “até que ponto as instituições falharam em proteger as crianças do abuso sexual infantil”. O inquérito examinou milhares de documentos de prova e realizou dezenas de audições e incluiu investigações detalhadas e estudos de casos de abusos perpetrados na Igreja de Inglaterra e na Igreja do País de Gales, bem como a análise das respostas (não dadas) por essas Igrejas.
O relatório final identificou 390 criminosos condenados associados à Igreja Anglicana desde a década de 1940 até 2018, mas advertiu que não seria alguma vez “possível identificar com precisão a verdadeira escala dos crimes sexuais”. As conclusões da professora Jay apontaram para o facto de que “durante esse tempo, a Igreja prestou ‘excessiva atenção’ aos supostos autores de abusos sexuais, em contraste com a pouca atenção dispensada às vítimas”. Essa afirmação baseou-se na revelação detalhada de “vários exemplos de clérigos cuja posição e reputação foram priorizadas em detrimento da consideração adequada das graves acusações contra eles feitas pelas vítimas, incluindo crianças”.
Pôr termo a um ano de polémica paralisante
Ao socorrerem-se, de novo, da professora Alexis Jay, os arcebispos procuraram responder de forma categórica e consensual a uma interminável polémica sobre o grau de independência e a seriedade do Conselho Independente de Proteção de Menores (e de pessoas vulneráveis) recentemente dissolvido pelo Conselho dos Arcebispos, que demitiu todos os seus membros. Há mais de um ano que a controvérsia sobre aquele órgão tinha resultado na sua paralisia, que atingiu o auge no Sínodo Geral no último fim de semana (14 e 15 de julho), tendo originado a renúncia do presidente interino do Conselho.
Os arcebispos tornaram público que a nomeação de Jay foi feita garantindo que: “o trabalho estará inteiramente nas suas mãos, será totalmente externo e independente; e receberemos com agrado o escrutínio e os desafios que dele resultarem”. Pela sua parte, os responsáveis eclesiais asseguraram que continuarão “a refletir sobre os acontecimentos recentes” para avançarem no seu “trabalho de proteção das vítimas e dos sobreviventes, crianças e adultos vulneráveis”, por forma a tornar “a Igreja um lugar mais seguro para todos”.
Ao aceitar o encargo, Jay afirmou: “o meu trabalho será justo, imparcial, objetivo e rigoroso. Uma das minhas primeiras tarefas será ouvir as opiniões das vítimas e dos sobreviventes de abuso na Igreja e ouvir os envolvidos na proteção em todos os níveis da Igreja em toda a Inglaterra”. E continuou: “Gostaria de garantir a todos que falo a sério. A minha equipa não incluirá nenhum empregado da Igreja, nem realizaremos reuniões ou conduziremos debates em dependências da Igreja. É imperativo que a Igreja de Inglaterra faça um progresso rápido e verificável na introdução de proteção genuinamente independente.”
De acordo com a notícia do Church Times, os termos de referência do relatório são os seguintes: “propor opções e recomendações para a formação de um órgão independente de escrutínio e de proteção na Igreja; propor quaisquer recomendações sobre como pode ser alcançada uma maior independência na proteção contra os crimes sexuais; e fazer quaisquer outras recomendações necessárias ou apropriadas.”