
Andrii Shtendera tem registado os edifícios religiosos destruídos pela invasão russa do seu país, o que lhe valeu o prémio. Foto: Direitos reservados.
A revista francesa Le Pélérin entregou há dias os prémios do património a seis projetos espalhados pela França. Nesta edição de 2022 houve, contudo, um prémio especial e extraordinário: o que reconheceu o contributo de um jovem arquiteto da Ucrânia, que tem trabalhado para salvar património religioso atingido pelos efeitos dos bombardeamentos russos.
Chama-se Andrii Shtendera, tem 27 anos, mora em Lviv, na parte mais ocidental do país, que é também a cidade onde se formou, e coordena, com peritos franceses, uma equipa que está a “identificar edifícios e monumentos danificados ou destruídos pela guerra”.
Cruzando informações oficiais com as de académicos e arquitetos, que vão surgindo nas redes sociais, eles procuram dar uma ideia da extensão do desastre. Para já registaram 97 edifícios afetados nas cidades de Kharkiv, Chernihiv, Mykolaiv, Sumy e Mariupol. No entanto, essa é apenas uma parte do problema: as autoridades do país contabilizaram, em agosto último, 205 edifícios religiosos destruídos ou danificados.
“Os edifícios religiosos fazem parte da cultura e da identidade ucraniana. Temos de protegê-los e reconstruí-los”, diz Andrii Shtendera, em declarações a Le Pélérin.
“Felizmente, na minha zona, não há muitos danos. Mas, os vitrais e as portas da Igreja da Santíssima Trindade, em Lviv, foram danificados por um míssil que caiu nas proximidades, em maio passado”, acrescenta o jovem arquiteto.
Explicando as razões pelas quais a revista decidiu incluir, nesta edição dos prémios do património de 2022, a situação da Ucrânia, um editorial explica:
“Em Le Pèlerin, estamos convencidos de que a destruição de edifícios notáveis é uma tragédia humana: órfãos dos seus entes queridos, os povos de países em guerra também se tornam órfãos do seu passado. É por isso que inscrevemos a 32ª edição do Grand Prix Pèlerin du Patrimoine sob o signo da solidariedade com a Ucrânia.”
“Restaurar o campanário da aldeia e optar por tornar-se aprendiz do património” – observa o editorial – “é desejar que todos possam conservar também os prodígios do seu passado. A cultura não é um luxo, é uma parte de nós mesmos. Comprometer-se na sua proteção é reprimir a barbárie.”

Vitral de Nossa Senhora do Bom Conselho, da catedral de Notre Dame, um dos projectos premiados por “Le Pélérin” nos seus prémios do património. Foto: Direitos reservados.
Le Pélérin promove desde 1990 os prémios do património das regiões de França, reconhecendo projetos de restauro e recuperação levados a cabo por associações e municípios. Segundo a publicação, mais de 300 projetos foram já apoiados e acompanhados. O júri é presidido por Philippe Bonnet, curador-chefe do património, e contou, na edição deste ano, com o patrocínio de Stéphane Bern, ativista e animador especializado em história e património.
Em 2022, entre outros projetos laureados, destaca-se a restauração dos vitrais de Notre-Dame e a restauração do retábulo de Francisco de Assis, em Roubaix.