Um grupo de jovens de Lisboa esteve em Taizé a viver a Semana Santa que termina com este Domingo de Páscoa. Rita Sousa, enfermeira, membro do Corpo Nacional de Escutas, escreveu para o 7MARGENS este testemunho sobre a experiência vivida estes dias na pequena aldeia da Borgonha, onde reside a comunidade monástica de monges católicos e de diferentes denominações evangélicas e reformadas.

Oração em Taizé: “É nesta partilha vulnerável que construímos pontes e que podemos caminhar juntos rumo a uma verdadeira experiência de unidade.” Foto © Comunidade de Taizé
Hoje, Sexta-feira Santa, encontro-me em Taizé e pedem-me que partilhe o sentido que esta presença tem na minha vida.
Gostava de começar a minha reflexão por dizer que, num ponto de vista muito simples e prático, venho a Taizé trabalhar e aprofundar a minha dimensão espiritual.
De facto, enquanto jovem mulher católica, tenho-me debatido com a diferença entre dois conceitos: o de religião e o de espiritualidade. Acredito que os dois se interligam, mas que não dependem necessariamente um do outro para existir. Idealmente, veria a religião como um meio para viver a espiritualidade. Mas compreendo que é perfeitamente possível viver a espiritualidade sem se ser religioso (quantas vezes encontramos valores cristãos em não crentes!), mas que também é possível estarmos completamente dentro da religião e nunca termos descoberto a nossa dimensão espiritual (falo aqui de uma rigidez que fica presa nos dogmas e rituais da Igreja, sem os compreender e fechando-se ao mundo exterior).
Tenho de confessar que a procura por um sentido de espiritualidade mais profundo não é, habitualmente, um caminho fácil. Se por um lado acredito que a fé faz apenas sentido ser vivida em comunidade, por outro compreendo que as paróquias locais nem sempre dão resposta a esta necessidade espiritual.
Taizé surge como uma fonte, pronta a acalmar a nossa sede interior. Uma fonte tão rica, que é possível encher uns quantos cântaros para levar de volta a casa e partilhar desta água com quem fica na comunidade.
E de volta a casa temos a oportunidade de nos tornarmos testemunhas do amor de Cristo. Aliás, é frequente questionarem-me sobre o porquê de ser crente, particularmente cristã. A este pedido de definição do que é ser cristão, respondo sempre o mesmo: ser cristão é viver por amor, com amor. É fazer do amor o valor mais alto da vida. O amor a Deus, ao próximo, à natureza.
E particularmente na Semana Santa, tendo a oportunidade de a passar na colina de Taizé, experimentamos, mais intensamente o amor que Cristo nos ofereceu nos seus últimos dias de vida terrena. Passar aqui a Semana Santa é sentir a Graça da certeza de ser amada por Ele e, assim, a certeza de nunca estar sozinha.
O sentido de unidade e comunhão

É certo que quando falamos do Amor de Deus, não o podemos dissociar do amor ao próximo, que tem na Comunidade o meio ideal para crescer e dar frutos. E é com uma pequena reflexão sobre comunidade que gostava de terminar.
Num tempo em que nos deparamos com Igrejas cada vez mais vazias, e que assistimos a um “êxodo” massivo do povo de Deus, seria importante refletir na sua causa: certamente que os escândalos dos abusos e crimes cometidos no seio da Igreja dão o incentivo para muitos decidirem, envergonhados, afastar-se de uma instituição que julgam já não partilhar os mesmos valores. Mas se formos justos, percebemos que muito antes destes escândalos terem sido expostos, este “êxodo” já estava a acontecer: muitas paróquias já tinham visto a sua assembleia reduzida, muitos jovens como eu já se tinham afastado, e o senso de comunidade e união já não era partilhado pela totalidade das paróquias. Será então que o que provocou primeiramente este afastamento não terá fundamento na falta de unidade entre os cristãos?
Gosto de vir a Taizé para viver exatamente este sentido de unidade, de comunhão. Encontro aqui um espaço seguro, onde me sinto verdadeiramente acolhida e onde sinto que todos são bem-vindos, na unidade. Aqui não se procura escolher os merecedores, mas antes acalmar a sede de todos aqueles que se encontram à procura – não se trata de um prémio, mas antes de sermos acolhidos com amor, independentemente de todas as nossas falhas.
Acredito que vir a Taizé nos pode ajudar a estar disponíveis para viver uma verdadeira experiência de comunidade, quando voltamos a casa. Principalmente, levo coragem – a coragem de trabalhar para a unidade. Coragem porque não basta estarmos disponíveis para o serviço, para dar, para amar o próximo. É preciso também tornarmo-nos vulneráveis, é preciso que sejamos capazes de deixarmo-nos ser ajudados, que nos permitamos também a ser amados.
Acredito profundamente que é nesta partilha vulnerável que construímos pontes e que podemos caminhar juntos rumo a uma verdadeira experiência de unidade, uma verdadeira experiência de paz.
Taizé (França), 7 de Abril de 2023
Rita Sousa integra o Corpo Nacional de Escutas e é enfermeira