
Mulheres paquistanesas estudantes ou trabalhadoras domésticas que vivem nas zonas suburbanas das grandes cidades e são duplamente marginalizadas: por serem cristãs e por serem mulheres. Foto © AIS.
“Quando fui para a universidade sofri muitos actos de discriminação por parte dos meus professores e colegas, a tal ponto que não conseguia concentrar-me nos meus estudos”, conta Ashia, 17 anos, cristã paquistanesa, num testemunho recolhido pela fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), no âmbito de um programa desenvolvido por esta instituição para capacitar mulheres em situações particularmente difíceis.
Na maioria, as destinatárias do programa são mulheres paquistanesas estudantes ou trabalhadoras domésticas que vivem nas zonas suburbanas das grandes cidades e são duplamente marginalizadas: por serem cristãs e por serem mulheres.
O pai de Ashia (o nome é fictício, como os restantes) é varredor de rua e ganha apenas 10 mil rupias por mês (cerca de 53 euros), o que nunca permitiria que a sua filha estudasse na universidade. Mas permitiu acabar os estudos secundários, apesar das muitas dificuldades, de modo a entrar na universidade, onde sentiu de forma mais intensa o que significa pertencer à comunidade cristã no Paquistão.
Ao partilhar as suas dificuldades com uma amiga, Ashia soube do programa da AIS. “Deram-me uma nova esperança. Prometi a mim mesma que não lhes daria outra oportunidade para destruírem o meu futuro. Vou estudar muito e mostrar às pessoas que Nosso Senhor está sempre connosco, e que nos dá força, e guia e protege”, diz.
Shazia, 19 anos, cujo pai é condutor de riquexó e o único sustento da casa, estava já no segundo ano da faculdade, num curso de engenharia informática, mas foi forçada a trabalhar, conta a AIS. Interrompeu precocemente os estudos para ajudar economicamente a família por causa da crise, agravada pela pandemia do coronavírus.
Educação, a única ferramenta

“Percebi que a educação é a única ferramenta e a chave para o sucesso”, diz uma das mulheres paquistanesas. Foto © AIS.
“Comecei a trabalhar numa fábrica. Ganhava entre oito a dez mil rupias [entre 43 a 53 euros] por mês. Pensei que este era o meu destino e este ia ser o meu futuro”, diz. Estava já de certa forma resignada face a isso quando tomou conhecimento do projecto da AIS e, com ele, também “uma nova esperança” para a sua vida.
“Percebi que a educação é a única ferramenta e a chave para o sucesso. Tudo é possível se nos comprometermos de todo o coração e enfrentarmos com coragem as dificuldades da vida”, afirma agora.
Nasreen, 15 anos, frequentava o 9º ano de escolaridade quando a pandemia do coronavírus levou a que o pai, operário, ficasse sem trabalho. Os problemas financeiros da família tornaram-se inevitáveis, a ponto de não poder pagar propinas escolares ou o custo da Internet para as aulas à distância.
“Fiquei muito magoada. Não foi a primeira vez… os meus colegas sujeitavam-me a discriminação constante e tinham preconceitos para comigo e com a minha família por causa da nossa religião. Eu estava completamente perdida e desesperada com o que me estava a acontecer”, explica Nasreen, no testemunho recolhido pela AIS. A sua inclusão no projecto votou também a dar-lhe alguma esperança: “Para já, a luz da fé e da esperança está a iluminar o meu caminho e não vou deixar que seja apagada por qualquer tipo de discriminação no futuro”, diz Nasreen.
Segundo o último relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, este é o retrato do que se passa no Paquistão: “Discriminação, blasfémia, rapto de mulheres e raparigas, e conversões forçadas continuam a assombrar a vida quotidiana das minorias religiosas.”
No caso dos cristãos, eles são das minorias religiosas mais perseguidas no país. Representando apenas cerca de 1,9% de toda a população, têm sido vítimas de intolerância e são normalmente relegados para os trabalhos mais indignos, duros e mal pagos. No caso das mulheres e jovens, a discriminação acentua-se com raptos de raparigas e casamentos forçados a que ficam sujeitas.