
Africanas, mulheres de etnia cigana e imigrantes. Vivem no bairro da Quinta da Princesa, Seixal, e fazem parte de um projeto de cidadania ativa. Foto © Câmara Municipal do Seixal.
São africanas, mulheres de etnia cigana e imigrantes. Vivem no bairro da Quinta da Princesa, Seixal, e fazem parte de um projeto de cidadania ativa para que a sua voz se ouça em diversas áreas: na saúde, na educação, na cultura e na ação social.
“Na Quinta da Princesa As Mulheres Contam” é o nome deste projeto que mobiliza as mulheres/raparigas de várias gerações, etnias e nacionalidades para mudar o bairro.
A construção de um programa sobre a literacia em saúde, a sensibilização para a importância dos percursos educativos e/ou formativos, o desenvolvimento da consciência social e valorização pessoal, estão entre os objetivos.
“A participação das mulheres é um alicerce fundamental para que haja mudanças nas práticas e nos territórios. Elas conhecem o bairro e as pessoas, e conhecem os problemas com que se confrontam no dia a dia”, diz Regina Marques, do Movimento Democrático das Mulheres (MDM), uma das entidades promotoras do projeto, juntamente com a Associação para o Desenvolvimento das Mulheres Ciganas Portuguesas (AMUCIP). Estas mulheres “lutam diariamente por melhores condições de vida e de saúde, por transportes melhores que as levem ao trabalho, pela limpeza e arranjo das habitações e dos prédios.”
As promotoras deste projeto reconhecem que “são as mulheres, a sua organização pessoal e dentro da família que se constituem como importantes agentes mobilizadores da comunidade”.
Debater com inspiração em Paulo Freire

O debate acerca dos vários temas é promovido de forma aberta e segundo a metodologia de Educação Popular, de Paulo Freire. Foto © Câmara Municipal do Seixal.
O projeto “Na Quinta da Princesa As Mulheres Contam” foi construído no âmbito do Programa Bairros Saudáveis da República Portuguesa, PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e União Europeia, em parceria com a Câmara Municipal de Seixal, Junta de Freguesia de Amora, ACES Almada Seixal, e Centro de Assistência Paroquial da Amora (CAPA).
“Organizámos a entrada no bairro com um grupo de mulheres que foi inicialmente convidado a participar através das pessoas conhecidas e das mediadoras ciganas. Com o decorrer das múltiplas sessões de trabalho foi-se gerando uma empatia e o grupo das moradoras foi-se consolidando e alargando ao longo do tempo”, conta Regina Marques.
O debate acerca dos vários temas é promovido de forma aberta e segundo a metodologia de Educação Popular, de Paulo Freire, que visa a sensibilização dos mais desfavorecidos em relação à origem dos problemas que os afetam. Assim, foram diagnosticados os problemas considerados mais preocupantes. “Depois houve a preocupação de problematizar a realidade vivida pelas populações mais vulneráveis, e ao mesmo tempo procurar uma construção coletiva e crítica dos seus conhecimentos, a valorização dos saberes populares e tradições e costumes, e obviamente promover a reflexão-ação como alguns dos fundamentos para a transformação social que todas esperavam.”
Em reuniões junto dos prédios e nos convívios sociais, os moradores da Quinta da Princesa têm-se reunido e participado nas discussões sobre a sua vida coletiva, sobretudo em torno das carências relacionadas com a habitação, “fator de união das mulheres do grupo”.
Realizaram-se também várias sessões temáticas sobre a saúde da mulher nas quais participaram enfermeiras do ACES que organizaram ações de sensibilização para os rastreios de tensão arterial, diabetes, e outras doenças sexualmente transmissíveis.
Prossegue agora o esforço para criar um espaço de encontro das mulheres do bairro, para que continuem a “aprender e a falar de si próprias” e a prosseguir com cursos de alfabetização. “O MDM e a AMUCIP vão continuar a apoiar e dinamizar este processo de maior envolvimento e diálogo entre todos”, assegura Regina Marques. Seguem-se novas experiências e outros desafios já programados para dinamizar o bairro e dar voz às suas mulheres.