
Manifestantes pró-Bolsonaro reunidos em frente ao quartel general do Exército em Brasília. Foto © Valter Campanato/Agência Brasil.
Após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente eleito no Brasil, observamos o meio evangélico reagir de maneira adversa; líderes pentecostais como Silas Malafaia e Edir Macedo declararam respeito ao resultado das urnas e abertura ao Governo Lula. Já o líder da bancada evangélica, Sóstenes Cavalcante, que é pastor na Assembleia Vitória em Cristo, a mesma igreja de Silas Malafaia, não está disposto ao diálogo, reforçando sua oposição ao Governo. Os pastores presbiterianos Ludgero Bonilha de Morais e Ageu Magalhães participaram e mobilizaram fiéis para atos antidemocráticos contestando o resultado das urnas, na última quarta-feira, dia 2. O clima após a eleição segue, portanto, polarizado. Mas não apenas. Os inúmeros atos antidemocráticos por todo o país com, inclusive, pedidos para intervenção militar, revelam um clima político-social mais hostil e delirante.
Tais iniciativas se configuram como antidemocráticas por contestarem a veracidade dos resultados da eleição com base em especulações amplamente divulgadas nas mídias sociais. Especulações porque não há provas ou, ao menos, indícios de fraude eleitoral. O canal argentino La Derecha Diário, ligado ao filho do atual presidente, Eduardo Bolsonaro, foi um dos responsáveis por suscitar a desconfiança dos eleitores de Bolsonaro ao divulgar um dossiê falso acerca das auditorias das urnas eletrônicas. As informações apresentadas no dossiê foram desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Contudo, desmentir informações falsas e contestá-las com provas, não é suficiente para fazer implodir a bolha bolsonarista, onde há uma profunda desconfiança das instituições democráticas e onde avança o descrédito pela imprensa.
O que vivemos no Brasil é histórico e, ao mesmo tempo, característico das estruturas sociais em que grupos atuam para estabelecer ou manter a correspondência entre a ordem social e sua visão de mundo. Os evangélicos e católicos bolsonaristas, atuantes para manter seu pensamento ideológico, devem considerar, contudo, que nesse movimento político questões morais e religiosas são ilusoriamente centrais. Acreditar em fraude eleitoral, ou ainda que Bolsonaro é a melhor opção para o Brasil, é como ser induzido pela serpente acreditando libertar-se quando, na verdade, está caminhando para o caos. Para Bolsonaro, seus filhos e aliados, defender pautas morais e religiosas é apenas uma maneira de manter seus privilégios políticos e econômicos, enquanto ocorre um desmantelamento de direitos e políticas públicas fundamentais para o desenvolvimento social do país.
Maria Angélica Martins é socióloga e mestra em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. Pesquisa a relação entre fenómeno religioso e política com ênfase para o protestantismo histórico e o neocalvinismo holandês.